O CORPO FALANTE
X Congresso da AMP,
Rio de Janeiro 2016
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de uma vez por todas. O homem fala com seu corpo. Lacan diz: ele é
falasser
por
natureza.”
p. 16
“Mas o gozo, no âmbito do inconsciente real, não poderia ser equacionado e
permanece insolúvel. Freud soube disso antes que Lacan o admitisse.”
p. 16
“… Falando com propriedade, o que se emparelha com a inexistência da saúde
mental é “falar com seu corpo”.”
p. 16
Miller, J.–A. “O inconsciente e o corpo falante” - Apresentação do
tema do X Congresso da AMP”, 2014.
https://www.congressoamp2016. com/uploads/8d43a017ed95340e07f9ca4dbb5cb235eb472a04.pdf“(…) “Não chegaremos a isso esquecendo a estrutura do sintoma do
inconsciente, nem tampouco esquecendo que a segunda tópica de Freud não
anula a primeira, mas se compõe com ela. Do mesmo modo, Lacan não veio
para apagar Freud, mas para prolongá-lo. Os remanejamentos de seu ensino
se fazem sem fissuras utilizando-se os recursos de uma topologia conceitual
que garante a continuidade sem interditar a renovação. Assim, de Freud a
Lacan, diremos que o mecanismo do recalque nos é explicitado pela metáfora,
tal como do inconsciente ao falasser a metáfora nos dá o envelope formal do
acontecimento de corpo. O recalque explicitado pela metáfora é uma cifração e a
operação de cifração trabalha para o gozo que afeta o corpo. É com um remendo
como este, de peças diversas, de diferentes épocas, tomadas emprestadas de
Freud e de Lacan, que se tece nossa reflexão - não temos de recuar diante do fato
de assim fazer um remendo a fim de avançar na circunscrição da psicanálise no
século XXI.”
“Lacan substituiu o aparelho psíquico estruturado pelo arco reflexo pelo
inconsciente estruturado como uma linguagem. Não se trata de estímulo-
resposta, mas de significante-significado. Só que – e esta é uma expressão de
Lacan já enfatizada e explicitada por mim – essa linguagem é uma elucubração
de saber sobre
lalíngua
[18],
lalíngua
do corpo falante. Disso decorre o fato de o
inconsciente ser, ele próprio, uma elucubração.”
“O real do laço social é a inexistência da relação sexual. O real do inconsciente
é o corpo falante. Enquanto a ordem simbólica era concebida como um saber
regulando o real e lhe impondo sua lei, a clínica era dominada pela oposição
entre neurose e psicose. Agora, a ordem simbólica é reconhecida como um
sistema de semblantes que não comanda o real, mas lhe é subordinada. Um
sistema respondendo ao real da relação sexual que não existe.”
III /c. Corpo falante
III /c.1 Cursos Psicanalíticos
Miller, J.-A. Perspectivas dos Escritos e outros escritos de Lacan: entre
desejo e gozo. Jorge Zahar Editorial, Rio de Janeiro, 2011
“(…) a orientação para o singular não quer dizer não decifrarmos o inconsciente.
Ela quer dizer que essa exploração encontra necessariamente um obstáculo, que
essa decifraçãoo se interrompe no fora de sentido do gozo e que, ao lado do
inconsciente, onde isso fala – e fala a cada um porque o inconsciente e sempre
sentido comum -, há o singular do sinthoma, onde isso não fala a ninguém.
Razão pela qual o qualifica de acontecimento de corpo….. É um acontecimento
de corpo substancial, aquele cuja consistência é de gozo.”
p. 96
III /c.2 Outros textos
Miller, J.-A. A salvação pelos dejetos. In: Correio Nº67. Escola
Brasileira de psicanálise, São Paulo, 2010
(…) “Observo o caráter problemático do que se designa como gozo do outro,
….Quando esse Outro se encarna sob o modo de outro corpo, o gozo que ele
suscita no corpo de alguém permanece evidentemente separado do gozo que
esse outro corpo experimenta. Quando o Outro designa o corpo social, se posso
dizer, seu gozo, o gozo desse outro, mantém-se como uma abstração.”
p. 22
Miller, J. –A. Seminário sobre os caminhos da formação de sintomas.
In: Opção Lacaniana Nº60. Edições Eolia, São Paulo, 2011
“ (…) Nesta direção, pode assinalar a condição de inconsciente, a
Unbewusstheit
,
do sintoma, que somente floresce a partir do inconsciente. Isto é, há um sentido
que quer se expressar, que não consegue e, então, surge o sintoma.”
p. 20
“… Lacan deduzirá que há algo excessivo no gozo que obriga o sujeito sempre a
defender-se do gozo que busca.” Lacan dará conta disso destacando a linguagem
(o significante), na medida em que esta negativiza o gozo. Isto é, o poder de
recalque está na própria linguagem; o Nome-do-Pai é a linguagem. Resta o mais-
de-gozar, o ganho de prazer, o
Lustgewinn.”
p. 21
Jacques-Alain Miller




