O CORPO FALANTE
X Congresso da AMP,
Rio de Janeiro 2016
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“(…) Pela vertente do sintoma, é a repetição do encontro faltoso, uma repetição
do evitamento, ao passo que pela vertente do
sinthoma
, é a repetição daquilo que
sustenta o sujeito no ser, e é porque tudo lhe é bom. Só podemos falar aqui de
mais e de menos em termos econômicos.”
p. 14
Miller, J.-A. Perspectiva do Seminário 23 de Lacan. O Sinthoma, Rio
de Janeiro, Jorge Zahar Editorial, 2009
“(…) Contento-me opor aqui a definição de sinthoma e, inicialmente, pela
negativa. O sinthoma não é uma formação do inconsciente. O sinthoma tem
uma relação com o inconsciente mais complexa, de todo modo, diferente.”
p. 135
“(…) O sinthoma, diz ele (Lacan) – em uma frase que tem alguma coisa que
poderia parecer banal; em todo caso ela não atrai nosso olho imediatamente
quando a lemos -, é o que há de singular em cada indivíduo.”
p. 136
“(…) O sinthoma se oporia como singular a tudo o que o síntoma, em sua
primeira acepção, comporta de generalidade. Isso me parece coerente com o que
Lacan formulará no fim do
Seminário 24: L’Une-bévue
– fórmula com a qual
debemos nos acostumar – a saber: a neurose tem a ver com as relações sociais.”
p. 136
“(…) Ele (Lacan) aloja o inconsciente no Outro e, pelo contrario, para fazer
simetria, aloja o sinthoma no Um. E inclusive define o Um pelo sinthoma.
Faz dele a consistência relativa à definição do Um, se assim posso dizer. Faço
essa referência ao que me parece volta no derradeiro ensino: a oposição entre o
sinthoma e o inconsciente.”
p. 137
Miller, J.-A. O inconsciente e o corpo falante - Apresentação do tema
do X Congresso da AMP”, 2014.
https://www.congressoamp2016.com/ uploads/8d43a017ed95340e07f9ca4dbb5cb235eb472a04.pdf“(…) Aprendemos a dizê-lo, por exemplo, quando falamos do sintoma como de
um sinthoma. Aí está uma palavra, um conceito que é da época do falasser. Ele
traduz um deslocamento do conceito de sintoma, do inconsciente ao falasser.
Como vocês sabem, o sintoma como formação do inconsciente estruturado
como uma linguagem é uma metáfora, um efeito de sentido induzido pela
substituição de um significante por outro. Em contrapartida, o sinthoma de
um falasser é um acontecimento de corpo, uma emergência de gozo. O corpo
em questão, aliás, nada diz que é o de vocês. Você pode ser o sintoma de outro
corpo desde que você seja uma mulher. Há histeria quando há sintoma de
sintoma, quando você faz sintoma do sintoma de um outro, ou seja, sintoma no
segundo grau. O sintoma do falasser resta, sem dúvida, a ser esclarecido em sua
relação com os tipos clínicos – apenas evoco, sobre os rastros de Lacan, o que
acontece na histeria.”
p. 4
“O sinthoma, em compensação, como sintoma do falasser, está ligado a seu
corpo. O sintoma surge da marca escavada pela fala quando ela toma a aparência
do dizer e faz acontecimento de corpo. O escabelo está do lado do gozo da fala
que inclui o sentido. Em contrapartida, o gozo próprio ao sinthoma exclui o
sentido”.
III /e. O Escabelo
III /e.1 Outros Textos
Miller, J.-A. Peças avulsas. In Opção lacaniana Nº45. São Paulo,
Edições Eolia, 2006. Tradução: Márcia Souza Bandeira
“(…) Escabelo; eis o conceito inédito introduzido por Lacan a partir de James
Joyce. É certamente, uma gozação concernente ao belo, uma versão sardônica da
estética.
p. 12
“O escabelo é o que Joyce se decide a fazer, o que será próprio a sobreviver a ele,
ou seja, ir além da decomposição de seu corpo. Trata-se de forjar um escabelo. E
forjá-lo a partir do afeto do corpo, ao qual faz referencia Spinoza, mas que Lacan
chama com seu nome freudiano, “o sintoma, modificando-o, passando a chamá-
lo: o sinthoma. Isto é o escabelo à ambição de Joyce.”
p. 12-13
“Como fazer desse acontecimento singular, desse traumatismo contingente,
desse acontecimento que afeta cada ser falante em sua singularidade, alguma
coisa que possa valer como uma lição….? Como, dessa infelicidade, dessa
medíocre infelicidade, fazer algo que pode ser chamado de belo, e que não passa
de um ‘escabelo’?”
p.13
“…ele diz que sempre é preciso o sintoma, ou seja, uma invenção, para que isso
se mantenha junto.
Essa invenção é uma obra. Essa obra enraizada no sinthoma é o que Lacan
chama de escabelo, ele escreveu como um gracejo: S.K. belo. O ser falante
precisa de um escabelo, porque a linguagem introduz ou repercute um furo, ele
precisa de um suplemento para subir na vida. O privilegio de Joyce, se existe
algum, é que ele fabricou esse escabelo com seu dizer. Nisso ele é exemplar para
Jacques-Alain Miller




