O CORPO FALANTE
X Congresso da AMP,
Rio de Janeiro 2016
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mais referido à consciência, mas à função da palavra e campo da linguagem? – a
defasagem que se repete no que quero dizer ao que digo –
como se
o significante
desviasse a trajetória programada do significado, e isso fornece elemento para
ser interpretado –
como se
o significante interpretasse a seu modo o que quero
dizer. Freud situou aí, nessa defasagem, o que chamou o “o inconsciente”-
como
se
no lugar do meu querer dizer, que é minha “intenção de significação”, ficasse o
querer dizer de significação outra que seria o próprio significante, designado por
Lacan com o “desejo do Outro”.”
p. 96
“A interpretação não é outra coisa que o inconsciente, a interpretação é o
próprio inconsciente.”
p. 96
“A equivalência do inconsciente e da interpretação é o que surge no fim do
seminário O
Desejo e sua interpretação
- neste paradoxo o desejo inconsciente
é
sua interpretação.”
p. 96
“É o inconsciente que interpreta. A interpretação analítica vem depois, ela se
apoia na interpretação do inconsciente, daí o erro de crer que é o inconsciente
do analista que interpreta.”
p. 96
“Fazer ressoar, fazer alusão, subentender, silenciar, fazer oráculo, citar, fazer
enigma, meio-dizer, revelar – quem faz isso? Quem o faz melhor? Quem
maneja esta retórica desde a nascença, enquanto você se esforça por aprender
rudimentos dela? Quem? – a não ser o próprio inconsciente.”
p. 96
“Toda a teoria da interpretação jamais teve outro objetivo – ensiná-lo a falar
como o inconsciente.”
p. 96
“Quando o analista se cala, é porque o inconsciente interpreta.”
p. 97
“O inconsciente interpreta e quer ser interpretado.”
p. 97
“Interpretar é decifrar, mas decifrar é cifrar novamente.”
p. 97
“A interpretação propriamente analítica funciona pelo avesso do inconsciente.”
p. 99
Miller, J.-A. (2006-2007) Perspectivas do Seminário 23 de Lacan – O
Sinthoma. Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editor, 2010
“ (…) Ao mesmo tempo em que situa o inconsciente, o sujeito do inconsciente,
nas hiâncias do significante, nas topadas, nos tropeços da cadeia significante,
ele [Lacan] pode dizer, cito:
algo no aparelho do corpo é estruturado da mesma
maneira
. E ele acrescenta
em razão da unidade topológica de hiâncias em jogo
.”
p. 131
Miller, J.-A. (2008-2009) Perspectivas dos Escritos e Outros Escritos
de Lacan. Entre desejo e gozo, Rio de Janeiro, Jorge Zahar Editorial,
2011
“(…) Se falei em fineza não foi somente por causa de Pascal. É em razão do
texto de Freud de 1935, que se intitula
“Die Feinheit…”
, “As sutilezas de um ato
falho”. Freud não se via diminuído ao apresentar, já tão longe em sua elaboração,
um ato falho de seu inconsciente, de apresentá-lo à comunidade de psicanalistas.
É o que ele queria lembrar-lhes, tão tarde: que um analista continua a aprender
com seu o inconsciente. Ser analista não o exonera desse testemunho. Ser
analista não é analisar os outros; é, a princípio, continuar a se analisar, continuar
a ser analisando – é uma lição de humildade. A outra via seria a enfatuação do
analista – caso ele se considere em dia com seu inconsciente. Não se está jamais.
É aquilo que, em ato, em ato de escrita, Freud comunicava a seus alunos.”
p. 28
“Lacan tentou outrora algo em nome do passe para responder à pergunta:
como nos tornamos analistas?
Era o seguinte: recrutar o analista com base no
que se modificou de seu inconsciente pela experiência analítica, com base nas
hipóteses de que um inconsciente analisado se distingue, por assim dizer, de
um inconsciente selvagem, de que um inconsciente analisado tem propriedades
singulares, de que um inconsciente
mais
sua elucidação fazem com que
sonhemos de outra forma, fazem com que não sejamos submetidos aos atos
falhos e aos lapsos de todo mundo. Claro, isso não anula o inconsciente, mas faz
com que suas irrupções se distingam.”
p. 36
“De qualquer forma, está posta a questão do inconsciente como critério. É
a questão que põe o passe, que faz da modificação da relação do sujeito com
seu inconsciente o critério de recrutamento. Isso deve se estender, além do
recrutamento, ao analista recrutado. Que relação ele continua a ter com o
inconsciente? Que relação com o próprio inconsciente tem um sujeito que,
ao longo do dia, trata do inconsciente dos outros? Seria excessivo pedir que,
no contexto de sua Escola, esse analista seja capaz de testemunhar – como
testemunhamos no passe – acerca da relação que mantém com o seu
não quero?
”
p. 37
“Os cursos que posso ministrar a vocês, que eu diga ou não, estão sempre
ligados, por assim dizer, a um de meus sonhos. Sempre parto de um
Einfall,
de
uma ideia que me passa pela cabeça. Tenho um esboço, claro, os matemas, mas
não venho jamais, diante de vocês, o mesmo. Venho sempre como um sujeito
do inconsciente, pelo menos gosto de crer nisso. É nessa disciplina que encontro
o motor para prosseguir ainda a elucidar, após tantos anos, sem dúvida, a
Jacques-Alain Miller




