Territórios Lacanianos #009

Coordenação: Glória Maron e Andrea Reis

 

Editorial

 

Instituto de Psicanálise e Saúde Mental de Minas Gerais

Territórios Lacanianos anexa a esta edição a apresentação do Instituto de Psicanálise e Saúde Mental de Minas Gerais. A atual diretora, Elisa Alvarenga, nos conta com detalhes de que maneira articulam-se diferentes atividades e realizações que tem por objetivo tornar a psicanálise de orientação lacaniana presente de forma efetiva na cidade em seus desdobramentos clínicos, institucionais e sociais.


Elisa Alvarenga descreve de que maneira o projeto do Instituto, dividido em três diretorias, tem sido bem sucedido nesta inserção. A Seção Clínica inclui os Núcleos de pesquisa e investigação, as apresentações de pacientes e as conversações clínicas. Desenvolve atividades que permitem estabelecer parcerias e convênios com diversas instituições inserindo o Instituto em uma rede bastante articulada que comprova a força da ação lacaniana na cidade. As duas outras diretorias, que se encarregam do ensino e das publicações, também contribuem para sustentar o tripé que serve de eixo para o movimento em direção à cidade. O caso clínico ocupa um lugar central no ensino e pesquisa do Instituto e os resultados construídos a partir do real da experiência dão margem a uma transmissão viva da psicanálise. O saber construído a partir da discussão do caso, da articulação da teoria da clínica, elucidação e elaboração de questões sobre a prática institucional, torna-se acessível através das publicações como por exemplo, Almanaque on line, que difundem a orientação lacaniana para além da Escola e do Instituto. A apresentação do Instituto de Psicanálise e Saúde Mental de Minas Gerais (IPSM-MG)  ilustra o alcance de um Território Lacaniano e suas fronteiras permeáveis a diferentes conexões com a cidade.


No Texto de Elisa e na entrevista gravada em vídeo vocês poderão ter uma ideia bastante precisa de como o IPSM-MG trabalha para manter viva e atuante a psicanálise de orientação lacaniana.


 

 

Instituto de Psicanálise e Saúde Mental de Minas Gerais

Elisa Alvarenga

 

Instituto de Psicanálise e Saúde Metal de Minas GeraisO Instituto de Psicanálise e Saúde Mental de Minas Gerais (IPSM-MG) é filiado ao Institut du Champ Freudien e parceiro da Escola Brasileira de Psicanálise – Seção Minas Gerais. Tem como metas o estudo, o ensino, a investigação e a difusão da psicanálise, bem como a discussão sobre suas possíveis conexões, nos seus desdobramentos clínicos, institucionais e/ou sociais. O projeto do Instituto de tornar a psicanálise presente na cidade, apóia-se em um tripé que se ramifica em várias atividades e realizações, articuladas à estrutura da sua Diretoria. A Diretoria de Secretaria e Tesouraria, com a ajuda de uma secretária, é responsável pela administração e organização de todo o projeto, que se divide entre três Diretorias:

 

Seção Clínica

 

Inclui os Núcleos de pesquisa e investigação, as apresentações de pacientes e as conversações clínicas. Os convênios celebrados entre o Instituto e a Prefeitura Municipal de Belo Horizonte possibilitam a frequentação dos Núcleos por técnicos da Rede de Saúde Mental e da Secretaria de Assistência Social, cuja formação é complementada através de discussões de casos, seminários teóricos, apresentações de pacientes e conversações. É também através destes convênios que o Instituto realiza, nos CERSAM (Centros de Referência em Saúde Mental), CERSAMI (CERSAM Infantil) e CERSAM AD (Alcool e drogas), suas apresentações de pacientes dos Núcleos de Psicose, de Crianças e de Toxicomania.

 

Nos Centros de Internação, Programa Liberdade Assistida e de Medidas Socioeducativas  para adolescentes infratores, o Núcleo de Psicanálise e Direito realiza suas Entrevistas de orientação psicanalítica. Estas, assim como as apresentações de pacientes, são importantes espaços de escuta da fala de um sujeito, que para além dos efeitos produzidos sobre o mesmo e a equipe que o cuida, será transcrita e trabalhada nos Núcleos de Pesquisa, assim como nas Conversações Clínicas.

 

As Conversações acontecem uma vez por semestre, aos sábados, e são espaços onde os casos clínicos, assim como as apresentações de pacientes, são reapresentados, comentados e discutidos com todos os interessados. Elas vêm se constituindo em importantes espaços de articulação com outras Instituições, por um lado, e de elaboração da teoria da clínica, por outro, a partir da discussão de casos singulares. Geralmente contamos com participantes e convidados de fora, seja de outras instituições, seja de outra Seção da Escola, o que nos permite um intercâmbio com a Rede Pública de Assistência e com algumas Universidades.

 

O Núcleo de Psicanálise e Medicina faz parceria com o Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da UFMG, contando com vários profissionais e professores aí locados. Um cartel assegura sua coordenação e as apresentações de pacientes são realizadas no NIAB (Núcleo de Investigação em Anorexia e Bulimia).


Finalmente, o Núcleo de Saúde Mental funciona com algumas cidades do interior de Minas, conectadas por Vídeo-conferência com o Instituto. A transmissão se dá para Montes Claros, onde uma turma se reúne na Unimontes, e Ipatinga, onde um pequeno grupo se reúne e conecta com o Núcleo. Uma vez por semestre uma apresentação de pacientes é realizada em Montes Claros.
 

Ensino

 

O Curso de Psicanálise tem duração de dois anos e é dividido em quatro módulos – o tratamento psicanalítico, a arte do diagnóstico, os atos e a clínica, a foraclusão generalizada e as psicoses ordinárias. Os alunos do Curso complementam sua carga horária nos Núcleos de pesquisa e demais atividades da Seção Clínica, além de frequentarem algumas atividades da Escola. Ao final de cada módulo, os alunos são convidados a escrever um trabalho que pode vir a ser apresentado em uma Jornada, organizada pela Diretoria de Ensino no final do ano, e eventualmente publicado no Almanaque on line. O programa do Curso revela sua orientação eminentemente clínica, centrada nos sintomas contemporâneos e tendo como eixo uma clínica continuísta, na qual o último ensino de Lacan não invalida os momentos anteriores do seu ensino.

 

Para os que não desejam fazer o Curso, o Instituto oferece as Lições Introdutórias, que abordam, cada semestre, um conceito freudiano que tem força na atualidade, com seus desdobramentos em Lacan.  

 

E finalmente, o Ateliê de Psicanálise Aplicada tem o objetivo de promover, para os ex-alunos do IPSM-MG, e para os profissionais que demonstrem uma clara relação com o Campo Freudiano, um espaço de elucidação da psicanálise e de sua prática nas instituições, de acordo com a orientação lacaniana. Desde seu início, em 2011, o Ateliê se propõe como um lugar de formalização da prática nas instituições e da construção de sua teoria. O Ateliê se dedica a elucidar o tema “a ação lacaniana nas instituições” ao longo de um ano, com encontros mensais, aos sábados, divididos em três eixos de discussão:

  • Casuística: discussão de casos previamente escolhidos entre os participantes

  • Pragmática: apresentação e discussão do trabalho institucional dos participantes

  • Teoria da prática: formalização da prática nas instituições, buscando elucidar a política da psicanálise no trabalho institucional.

O Ateliê é um laboratório de escrita das elaborações de cada participante sobre sua prática institucional, constituindo-se em um espaço de reflexão sobre a mesma, com alguns outros. Os professores indicam leituras e fazem comentários a partir do que é exposto pelos participantes. É aqui que o termo de participante, mais do que o de aluno, ganha toda a sua relevância, embora ele seja pertinente em todas as atividades do Instituto. Como enfatiza Miller a respeito das Seções Clínicas dos Institutos, o termo de participante é preferível ao de estudante, considerando o alto grau de iniciativa que lhes pedimos. O trabalho que ofereçam não lhes é expropriado, pois depende deles . Na primeira turma do Ateliê o trabalho apresentado pelos participantes e comentado pelos docentes do Instituto foi de tal qualidade que deu origem a uma edição especial do Almanaque de Psicanálise e Saúde Mental, publicada em 2013: A prática da psicanálise nas instituições – o que o Ateliê ensina.

 

Publicações

 

O terceiro eixo do tripé constituído por nosso movimento em direção à cidade é o das publicações, que têm cumprido uma função importante nos últimos anos no Instituto. O Almanaque on line, de publicação semestral, se dedica aos temas candentes do momento, tais como os temas dos encontros internacionais, e acompanham a política da Escola. Assim, no ano passado, o Almanaque publicou uma entrevista com o Diretor do ENAPOL VI, sobre o tema do corpo na orientação lacaniana da psicanálise. O Almanaque on line publica a produção dos Núcleos de Pesquisa e os trabalhos de alguns alunos, apresentados nas Jornadas.

 

Sabemos o quanto escrever é uma tarefa difícil para muitos psicanalistas, e mais ainda, para os jovens participantes do Instituto. Pois é aí que colocam algo de seu. É tarefa da Diretoria de Ensino estimular e acompanhar a escrita dos alunos, o que tem produzido interessantes resultados.

 

Além do Almanaque on line e dos números especiais do Almanaque, tal como aquele dedicado ao Ateliê, o Instituto lançou a coleção ...com Lacan. Ela se inscreve dentro da proposta, do Instituto, de transmissão de uma clínica à altura da nossa época, que nos remete à onipresença da pulsão nos sintomas contemporâneos e vai além do inconsciente freudiano, sem desconsiderá-lo, com as contribuições do que temos chamado o último ensino de Lacan.

 

Depois de O homem dos lobos ... com Lacan, um esforço de pensar um caso freudiano com o que Jacques-Alain Miller introduziu com o termo de psicose ordinária; e A psicanálise do hiperativo e do desatento ... com Lacan, que aborda um dos diagnósticos que se constituem como epidemia na atualidade, a comunidade do Instituto, em conexão com os colegas da Rede TyA e em parceria com a UFMG, aborda em Tratamento possível das Toxicomanias ... com Lacan, um dos desafios à prática psicanalítica na contemporaneidade, o uso de drogas. Nossa ambição é tornar possível a transmissão de um saber que possa nos servir de bússola, porque construído a partir do real da experiência. Esta é nossa aposta: que a experiência da psicanálise, e sua aplicação, que se faz caso a caso, possa se transmitir e provocar efeitos no Outro social e no real.

 

MILLER, J.-A. Prólogo de Gitrancourt, 15.08.1988.