Editorial #16

 

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Um Encontro de Escola

Maria Josefina Sota Fuentes  

 

A Diretoria na Rede no16 celebra a chegada do XX Encontro Brasileiro do Campo Freudiano, para o qual a Escola Brasileira de Psicanálise vem se preparando, em todas as suas Seções e Delegações, ao longo deste ano. Com mais de mil inscritos, que praticamente já lotaram o Centro de Convenções Dayrell da cidade de Belo Horizonte, este Encontro, como se verá, foi concebido para ser um encontro de Escola, ou seja, solidário com o conceito da Escola de Lacan.

 

Com a temática do Trauma nos corpos, violência nas cidades, o Encontro será a ocasião propícia para interrogar o discurso comum sobre o trauma e a violência na contemporaneidade que, ao suprimir o fator subjetivo, confere à "vítima" o estatuto de uma subjetividade vazia, pela qual responde um Outro culpado pelo estrago, não sem efeitos de extravio e segregação subjetivos que se pretende, inclusive, combater.

 

Serão necessários três dias de trabalho para dar lugar às distintas modalidades de transmissão que acontecem na EBP, aliadas à criatividade dos seus organizadores, Henri Kaufmanner e Fernanda Otoni. Entre as surpresas e novidades, mas também nas formas que já adotamos como parte da nossa "tradição" nos Encontros, podemos localizar os pilares da Escola de Lacan, tal como concebida no "Ato de Fundação" e na célebre "Proposição de 9 de outubro de 1967 sobre o psicanalista da Escola".

 

Os "cartelizantes" da EBP foram convidados a colocar a céu aberto seus produtos singulares e transmitir a questão que trabalha em cada um a serviço da causa analítica. Se já conhecíamos a famosa fórmula com a qual Lacan em 1964 incita o cartelizante a levar a sua produção singular, extraída da elaboração coletiva do Cartel, para à crítica e controle da Escola, o coordenador da Comissão Científica, Sergio Laia1 , nos mostra o alcance das categorias do AME e do AE, que não respondem a uma hierarquia contra a qual Lacan tanto se opôs, mas qualificam, ironicamente, dois modos de gradus diante da queda do Sujeito Suposto Saber. Diante do "não há" da não-relação sexual, do Outro que não existe, Há-Uma maneira singular de abordar o real em jogo que concerne a formação do analista, a ser posto a prova no coletivo da Escola.

 

Assim, além das tradicionais Plenárias destinas à transmissão dos AEs, contaremos também com os Seminários e Conferências dos AMEs, onde cada um, com seu estilo singular, dará provas de como enfrenta o paradoxo que Lacan enunciava nos seguintes termos: isso que a psicanálise nos ensina, como ensiná-lo?

 

A outra novidade é que, depois de mais de uma década sem uma Jornada Nacional de Cartéis, o XX Encontro Brasileiro do Campo Freudiano será um dos destinos do trabalho do cartelizante. O assim nomeado "Evento-Cartéis" acontecerá dentro do próprio Encontro (e não como uma Jornada a parte), para o qual convidamos todos os cartelizantes da EBP – que em grande parte já trabalhavam o tema da Transferência, caro ao conceito de Escola e do próprio Cartel – a enviarem seus produtos, o que resultou em uma boa quantidade de trabalhos, que coube à Comissão Científica selecionar. Assim, dez mesas simultâneas debaterão "Os destinos do amor", tema este que serviu também de eixo de investigação da temática do Trauma nos corpos, violência nas cidades.
Para a Mesa Plenária do Evento-Cartéis, convidamos a cada integrante do atual Cartel do Passe da EBP para falar sobre "O amor e o inconsciente ao final da análise". O Cartel da Comissão Nacional dos Cartéis da EBP, que atualmente trabalha cada um destes textos, levará para o debate, através do seu Mais-Um, Carlos Augusto Nicéas, as questões que cada trabalho suscitou. Contaremos ainda com a presença inestimável do Delegado Geral da AMP, Miquel Bassols, para discutir, entre outros temas, o estatuto do amor e do inconsciente ao final da análise.

 

De frente ao amuro, mais uma vez, convidamos a todos a participar da elaboração destas respostas.

 

Queridos colegas, boa viagem e até Belo Horizonte!