Editorial #15

 

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Marcelo Veras

 

"Frühling"

In dämmrigen Grüften
träumte ich lang
von deinen Bäumen und blauen Lüften,
Von deinem Duft und Vogelsang.
Nun liegst du erschlossen
In Gleiß und Zier
von Licht übergossen
wie ein Wunder vor mir.
Du kennst mich wieder,
du lockst mich zart,
es zittert durch all meine Glieder
deine selige Gegenwart!

Primavera

Em cavernas sombrias
sonhei longamente
com suas flores e céus azuis,
com seus odores e cantos de pássaros.
Agora você está revelada
com todo o brilho e adorno,
inundada de luzes
como um milagre diante de mim.
Você me reconhece novamente,
você me atrai docemente,
todos os meus membros tremem
com sua bem-aventurada presença!

 

(Hermann Hesse)

 

O poema de Hermann Hesse acima tornou-se uma das mais belas canções de Richard Strauss. Foi cantada pela primeira vez somente após sua morte, em 1950 pela soprano Kirsten Flagstad. Ela é uma das famosas quatro últimas canções de Strauss, verdadeira celebração da vida precisamente aos 84 anos, no final de sua vida, anunciando uma impressionante resignação e pacificação diante do real da proximidade da morte. Tanto em sua prática quanto em sua própria análise, o psicanalista tem na morte e no real seus eternos parceiros. Porém, tal como na Primavera de Strauss, ele sabe que é possível celebrar a vida assim mesmo, a partir da criação. Diante de temas árduos como a violência e o trauma, por todo o Brasil é possível ver a transferência de trabalho de nossa comunidade em ação. Setembro, outubro e novembro são meses de intenso trabalho para todos, mas também de celebração. Faltando menos de dois meses para o XX Encontro Brasileiro já ultrapassamos as mil inscrições e restam poucos lugares disponíveis.

 

Nosso Boletim Diretoria na Rede continua recolhendo o trabalho da EBP e mostrando a diversidade que nos habita. Os temas são os mais variados, porém sempre trazendo um olhar psicanalítico para o mundo e questionando nossa prática em um olhar “para dentro” de nossa Escola. O fato do DR ser uma revista digital nos coloca muito mais próximos da vibração do mundo contemporâneo. Podemos lançar mão de vídeos, imagens, redes sociais, em suma, transitarmos pelas novas mídias de modo muito mais ágil e abrangente. Seria impossível termos a versatilidade do DR em uma revista impressa. Esse mês inauguramos mais uma novidade, o Espaço da Escola. Os membros da EBP podem agora encaminhar seus textos, poesias, comentários, cartas, sugestões de livros, filmes ou música, em suma ele é um espaço para que os membros possam se manifestar um a um, uma espécie de mural que esperamos seja cada vez mais dinâmico. Inauguramos esse espaço com dois textos das colegas Silvia Esposito e Tânia Coelho. O convite está lançado, basta entrar em contato pelo endereço diretorianarede@gmail.com.

 

Assim, nos alinhamos aos tempos modernos, sem perder contudo a ternura. Nossos dispositivos estão funcionando a pleno vapor. Nas Seções e Delegações o cartel está em plena atividade. Nossos AEs são convidados a testemunhar e formalizar o dispositivo do passe para um público sempre interessado e comprometido. A orientação lacaniana continua sendo nosso pilar central.

 

Em um mês tão importante para os destinos do Brasil, em que todos somos psicanalistas e cidadãos, a EBP, através de seus observatórios e de suas instâncias, deverá saber escutar com os ouvidos de quem escuta a bela voz da canção de Strauss, o que as vozes eleitas no atual processo eleitoral nos dirão e, sobretudo, que dizer esquecido em seus ditos forjará os discursos dos próximos tempos. Como nossa revista é digital, deixo com vocês uma bela versão de Frühling na voz de Kiri te Kanawa sob a regência no magnífico Georg Solti. Boa leitura, boa escuta, boa visão.

 

Marcelo Veras

Diretor da EBP