Editorial #14

 

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A apresentação de trabalho na formação do analista

Maria Josefina Sota Fuentes

 

Ao célebre tripé freudiano da formação do analista (análise pessoal, supervisão da prática e instrução teórica), Lacan introduziu um quarto elemento1 , sem o qual incorreríamos no mesmo erro que ele tanto criticou quando fundou sua Escola, em 1964, em resposta às sociedades erguidas contra o discurso analítico, guardiãs das falsas garantias.

 

Não há um conceito que defina a psicanálise, nem uma lei que garanta a formação do analista – o que não nos impede de verificar, a posteriori, se ali há-um analista como produto de uma análise, tal como no dispositivo do Passe, e se houve um efeito-de-formação no saber transmitido. Para isto, Lacan inventou o Cartel como um dispositivo que subverte o discurso universitário, já que não há um saber pronto a ser adquirido em psicanálise, nem um sentido oculto repousando nas profundezas do inconsciente para aflorar com a interpretação. Ao contrário, o principal a ser transmitido implica o impossível de ensinar, o limite de todo saber, a fugacidade do sentido que, por outra parte, localiza o ponto de fuga no horizonte da formação do analista e exige do analisante a produção deste saber, tanto na análise como na sua formação como analista.

 

Daí a importância da elaboração de um produto singular que possa ser levado à céu aberto para submetê-lo à crítica da Escola. Nenhuma tradição nos garante, nem mesmo a letra do Pai da psicanálise e, por isso mesmo, mantemos a tradição de encontrar-nos a cada dois anos para trabalhar em torno desse furo, desse troumatismo essencial da formação do analista. A arte desse Encontro dependerá daquilo que cada um fizer dele, do XX Encontro Brasileiro do Campo Freudiano, que acontecerá na cidade de Belo Horizonte, nos dias 21 a 23 de novembro de 2014.

 

Por isso, neste Encontro acontecerá também o Evento-Cartéis, para o qual convidamos a todos os cartelizantes a enviarem seus trabalhos – um produto singular elaborado no coletivo do Cartel, que articule a temática de cada um a um tema amplo que nos enlaça, caro ao próprio dispositivo do Cartel e à Escola, que é o da transferência. Assim, com Os destinos do amor aguardamos os trabalhos até o dia 7 de setembro. Do trabalho da transferência à transferência de trabalho, nesta Dobradiça, repousa certamente um amor, o amor que não se liquida.


Bom trabalho!
           

1Conforme desenvolve Ana Viganó, Diretora de Cartéis da NEL, no texto que nos enviou para o Dobradiça de Cartéis n.11, "Fenda e dobradiça":