EBP Debates #016

 

Editorial

 Frederico Feu e Paula Borsoi


Estamos às vésperas do XX Encontro Brasileiro do Campo Freudiano, no qual teremos a oportunidade de acompanhar, entre outras atividades de sua programação, as conferências e seminários dos Analistas Membros da Escola. Para este número de EBP-Debates, solicitamos aos nossos AMEs que escrevessem algo em torno da seguinte questão:


“Quais são as suas expectativas e perspectivas em relação ao seminário/conferência dos AMEs que você prepara para o XX Encontro Brasileiro do Campo Freudiano?”


O leitor poderá encontrar, a seguir, uma orientação sobre o modo como cada um recortou o tema do Encontro, “Trauma nos corpos, violência nas cidades”. Certamente, essas conferências e seminários serão um momento de elaboração importante para todos nós e uma maneira de se transmitir o que pensa a EBP através dos seus AMEs.


Uma boa leitura a todos!


 

Comentários:

 

Ana Lucia Lutterbach Holck (RJ)


Minha expectativa para este seminário, intitulado “Sintoma: nos corpos e na cidade – ato analítico e ação lacaniana”, está voltada, principalmente, para a conversação que teremos após a apresentação dos três eixos, contando com a experiência dos participantes para um debate, não só sobre o que podemos extrair de nossa experiência clínica cotidiana para a prática da psicanálise na cidade, mas também como essa prática nos ensina sobre os sintomas contemporâneos. Espero que possamos tirar consequências deste debate para darmos um passo a mais em nossas formulações sobre a prática da psicanálise na cidade.


Para tanto, conto com a presença daqueles que trabalham nos ambulatórios, nas ruas, nos projetos de psicanálise aplicada e todos aqueles que se interessam por esse tema. Até lá.

 

Francisco Paes Barreto (MG)


“Por que a Violência?” É possível, no campo aberto por Freud, radicalizado por Lacan e elucidado por Miller, uma leitura da violência que se verifica no mundo contemporâneo, e com especial intensidade e algumas particularidades, no Brasil.
O ponto de partida será as numerosas contribuições de Freud ao estudo da cultura. A questão pode ser formulada em termos mínimos. Enquanto que, para o Direito, há uma pergunta crucial, Por que um homem chega a tornar-se antissocial?, para a Psicanálise a pergunta é outra, Por que um homem chega a tornar-se social?
Com Lacan, principalmente por meio de seu último ensino, abre-se a possibilidade de examinar as vicissitudes da subjetividade contemporânea, muito diferente da época de Freud. Apagamento da moral sexual civilizada, declínio do pai e do viril, emancipação das mulheres, liberação dos costumes. Contexto que redimensiona os destinos não só das pulsões sexuais como, também, das pulsões de morte.


Miller, por sua vez, além de fazer reverberar o último ensino de Lacan, entre outras contribuições ressalta os impasses de uma época em que o Outro não existe e traz o matema a>I, como o objeto mais-gozar no zênite da cultura e os ideais em queda livre.


São alguns balizamentos que orientarão reflexões na tentativa de responder à pergunta premente e instigadora: Por que a Violência?

 

Cristina Drummond (MG)

 

Chamei o seminário que preparei de “Trauma e corpo: automutilação, consistência e amarração”. A proposta é investigar o tema de nosso encontro a partir de um ponto de conjunção entre trauma e violência. Vamos partir de várias situações clínicas para pensar a relação dos falasseres com a imagem do corpo e os momentos em que o real faz essa imagem especular vacilar e nos introduz não apenas em outra dimensão do corpo, como também na dimensão da ex-sistência. Essa é a dimensão, nos ensina Miller, que está presente na lógica das invenções singulares que encontramos cada vez mais na busca dos sujeitos contemporâneos para aparatar o gozo e poder localizar o pulsional no corpo. Aqui nos encontramos com distintas amarrações. Vamos passar por formulações de Lacan sobre o corpo: o corpo assombrado por um problema de fora do corpo, o corpo conjunto vazio, o corpo sem órgãos, o corpo largado, o corpo despedaçado e o corpo explodido, até sua ideia de sinthoma e de um corpo pele, conjunto de saco e de cordas.


Num segundo momento, a partir da formulação de Lacan a respeito do exemplo do Fort-da, onde o sujeito responde ao traumático do furo do simbólico no corpo com uma automutilação, vamos interrogar a clínica das automutilações e dos cortes. Vamos tomá-las como um fenômeno de corpo cada vez mais frequente e que não se apresenta apenas no campo das psicoses. As automutilações e os cortes nos ensinam sobre a relação do falasser com o gozo Um, sem recurso ao Outro. Vamos investigar sua função na esquizofrenia, no autismo, nas respostas às invasões de angústia, buscando extrair daí uma lição sobre a relação dos falasseres com seus corpos. O ensino dos AEs a respeito de suas soluções singulares também virá em nosso auxílio nesse percurso.

 

Elisa Alvarenga (MG)

 

O Seminário que preparo é sobre o tema “Homens, mulheres, corpos que falam”. Pretendo investigar o tema do trauma nos corpos a partir da perspectiva do inconsciente como corpo falante, introduzida por Jacques-Alain Miller no seu argumento para o X Congresso da AMP, que terá lugar no Rio de Janeiro em 2016. Dividirei o Seminário em três pontos:

 

1. O corpo falante, uma mudança de perspectiva no ensino de Lacan: exploraremos como, a partir do Seminário, livro 20, Lacan substitui o sujeito do inconsciente, sujeito mortificado da cadeia significante, pelo falasser, ser que fala e é falado, vivo, que inclui o corpo que goza e dá origem ao sintagma “corpo falante”, cujo estatuto nos interessa investigar.

 

2. O gozo feminino e a outra satisfação: proponho, por um lado, elucidar a relação do gozo feminino com o Um do gozo, a partir da afirmação de Miller de que o gozo feminino é o gozo como tal. E por outro lado, a relação do gozo fálico com o que Lacan chama a outra satisfação, a partir da afirmação de que Lacan identifica o gozo da palavra com o gozo fálico. Veremos como homens e mulheres se localizam frente ao gozo e como é possível que se relacionem um com o outro.

 

3. Finalmente, trata-se de pensar os efeitos de uma análise sobre o gozo, e a relação entre a posição do analista e a posição feminina.

 

Heloísa Caldas (RJ)

 

Uma das mais fortes características do trabalho de Escola é a de causar desejo. Assim, a partir do convite que a Comissão Científica do XX Encontro Brasileiro do Campo Freudiano me fez, senti-me convocada a pensar um tema e a me arriscar na sua transmissão. A perspectiva que tomei foi a de aproveitar essa oportunidade para expor algumas reflexões preliminares sobre o tema do Observatório “A violência e as mulheres”, para o qual a FAPOL me convidou a trabalhar.  Propus então como título de minha fala “A violência e o feminino”.


Pretendo trabalhar estes dois termos – ‘violência’ e ‘feminino’ –, tão difíceis de conceituar, atestando sua articulação ao que Lacan nos ensina sobre o real. Privilegiei no título o termo ‘feminino’ em vez de ‘mulher’ para pensar a questão sob o viés da psicanálise, na medida em que a violência parece se dirigir à alteridade do gozo numa operação de exclusão e destruição.


Gostaria ainda de ressaltar que se trata menos de uma conferência a partir de um saber pronto do que de uma fala sobre uma pesquisa em curso. Nessa direção já venho contando com a contribuição de colegas da EBP, EOL e NEL que participam do Observatório sobre a violência e espero contar também, na ocasião, com a contribuição dos presentes numa interlocução que ajude a pensar questões tão complexas.

 

Luiz Henrique Vidigal (MG)

 

O título da conferência será “Contribuições para uma leitura da ex-sistência do corpo a partir da Topologia”.


Qual o destino dos conceitos de Real, Simbólico e Imaginário na Psicanálise?  Normalmente quando tratamos de um, depreciamos os outros dois. Lacan acredita que eles são organicamente relacionados. Oferece-nos um instrumento, ao mesmo tempo lógico e tópico coma finalidade de um tratamento destas relações. Um enlaçamento onde, se rompe um dos laços, ele se desfaz.  Novo raciocínio, novas questões: vizinhança, limite, buraco, consistência, ex-sistência. Lacan fez este exercício durante alguns anos ao final de seu ensino.  Um exercício que tem o ônus de certo imperialismo, que o próprio Lacan teve que se safar, mas que apresenta um nível de dedução, especulação e criatividade que vale a pena revisitar quando nos preparamos para uma discussão do corpo em psicanálise.

 

Maria do Carmo Dias Batista (SP)

 

No seminário “Trauma e Violência na Clínica, na Arte e no Cinema”, em 21.11.2014, pretendo abordar o momento traumático e o ato violento a partir da mediação oferecida pela fala na sessão analítica, pela imagem na obra de arte e pela conjunção imagem-palavra no cinema.


Nas vinhetas de casos, assaltos, estupros, graves doenças orgânicas, abusos sexuais na infância, uso de drogas, suicídio, prisão, síndromes do pânico, acidentes automobilísticos, assassinato, anorexia, auto-laceração e mutilação do corpo, interessa-nos investigar se uma das duas clínicas de Jacques Lacan seria melhor talhada para tratar os sintomas e o gozo que cada uma das situações engendra. A arte e o cinema acompanharão pari passu esse percurso.

 

O mal e suas vicissitudes nos corpos e na vida

Sandra Arruda Grostein

 

Este Seminário está previsto para debater a relação entre a psicanálise e a violência, a agressividade e o mal através de uma discussão sobre o argumento do filme “Na quebrada”  a partir de dois pontos, uma entrevista gravada com o diretor Fernando Grostein de Andrade e do acompanhamento psicanalítico de um paciente que inspirou um dos personagens do filme, uma vez que apesar de ficcional, o roteiro é baseado em fatos verídicos.


Esta articulação permite trazer para o debate no seminário a proposta lacaniana de que “ nós analistas devemos pôr em jogo a agressividade do sujeito a nosso respeito, já que essas intenções como sabemos, compõe a transferência negativa que é o nó inaugural do drama analítico”