Dobradiça de Cartéis

Novembro de 2014

DOBRADIÇA DE CARTÉIS Nº 16

Boletim eletrônico dos cartéis da EBP

 

Dobradiça de Cartéis

 

 

Editorial

 

O amor e o Cartel

Cássia M. R. Guardado

 

Às vésperas do XX Encontro Brasileiro do Campo Freudiano, onde o Evento-Cartéis terá lugar sob a égide dos Destinos do Amor e do lugar do Cartel na Escola e a transferência de trabalho, são apresentados, nesta edição de Dobradiça de Cartéis, na seção Escrita Cartelizante, trabalhos apresentados em Jornadas de Cartéis de Seções da EBP, cuja leitura nos anima e incentiva nesta via de trabalho própria à Escola de Lacan.

 

Tomarei, do trabalho de Adelmo Marcos Rossi – “A embaraçosa exclusão do objeto em Kant” – uma citação de Miller em Lakant como dobradiça que articula questões relativas à sublimação, à consciência moral, à ética, ao amor, ao desejo e ao gozo, presentes nos trabalhos ora publicados:

 

J.-A. Miller, comentando a Crítica da Razão Prática de Kant, aponta para o desprezo que Kant tem pelo amor. É a foraclusão de todo desejo, de toda moralidade que pode partir do amor.” “O motor da moralidade é a foraclusão de todo o desejo que se fundamenta no amor. Os objetos são patológicos, provocam o desejo, e contaminam a razão. São foracluidos no real, mas retornam sob a forma simbólica da lei, sob a forma de uma lei que olha incessantemente.

 

A essa citação, que centra de imediato a importância do amor, podemos articular a questão apresentada por Gabriel Coimbra Carvalho, em seu trabalho “O sujeito autônomo e os imperativos de gozo”: como pensar a autonomia do sujeito frente ao corpo como aquilo que goza, uma vez que “o imperativo categórico tenta excluir o corpo de ponta a ponta, na medida em que legisla um sujeito transcendental.”


Ou a elaboração de Alberto Murta em “A pulsação do supereu no surgimento do sinthoma” que, retomando também Miller, afirma que “o acontecimento de corpo também implica uma marca, pois as fincadas de lalangue no corpo deixam vestígios. Esse acontecimento que é o sinthoma traz as marcas de um corpo que testemunha o real de gozo inerente ao corpo.”

 

Georgia S. de Sordi, em “A elaboração de uma questão sobre o amor”, se pergunta: o amor seria um sintoma ou sinthoma? Bem como Silvia Sato, em “Um amor furado?”, indaga se “o amor enquanto significação vazia, não como efeito da falta, mas do furo, sustenta uma nova causa de desejo?”

 

Lilany Pacheco, em seu trabalho “Dimensões do gozo Outro nas tramas das redes sociais”, sugere uma afinidade entre o discurso analítico e as redes sociais, por estas incluírem no discurso os dejetos da vida psíquica, se perguntando, então, se não estaria aí a função do que Freud e Lacan nomeiam de sublimação. Pois, “como esclarece Miller, a sublimação é um meio pelo qual o gozo forçosamente autista do UM entrelaça-se como discurso do Outro, inscrevendo-se no laço social.” Porém, ressalta que, não sendo a sublimação uma operação sem resto, “o que do resto de gozo que não se inscreve na linguagem, no Outro do laço social, retornará sob a forma do gozo do Outro.”

 

E Elisângela Miras, em “Sublimação”, a partir do Seminário 8: a ética da psicanálise , de J. Lacan, retoma, como paradigma da sublimação, mas também do amor, o amor cortês, exemplo máximo da elevação do objeto à dignidade da Coisa, onde o objeto não está presente, mas não foracluído como em Kant, fazendo pela elaboração poética e trovadoresca, levando em conta o real, um amor mais digno, como indica Lacan em outro tempo de seu ensino.

 

Assim, espero que os leitores desta Dobradiça tenham o mesmo prazer e usufruto que tive ao ler e aprender com estes trabalhos de Cartel de nossa EBP, dando provas do amor à psicanálise e à transferência de trabalho, saldos dignos de uma análise.

 

Escrita cartelizante

Trabalho apresentado na Jornada de Cartéis da Seção Minas em 23 de maio de 2014

 

Dimensões do gozo Outro nas tramas das redes sociais

Lilany Pacheco

 

Introdução

 

O tema que escolhi abordar neste Cartel refere-se à modalidade das relações estabelecidas pelos usuários, nas redes sociais, através do uso de chats, mensagens internas, dando vida a um funcionamento off line, digamos assim, em relação ao que se pode ver no feed de estórias postadas pelos “amigos” que integram a rede para cada um. [leia mais...]

 

 

A pulsação do supereu no surgimento do sinthoma

Alberto Murta

Há um certo desenvolvimento no seminário Lakant1, onde Jorge Alemán constata que, em Kant, há uma ideia definitiva de que um pensamento nascente é sempre engendrado por uma prescrição. Ele chega a afirmar que não existe pensamento sem prescrição: o fundamental em Kant é de ter explorado a estrutura formal dessas prescrições fora das leis da natureza. [leia mais...]

 

 

A embaraçosa exclusão do objeto em Kant

Adelmo Marcos Rossi

 

Segundo Miller, na época de Kant, vivia-se sob a égide da certeza matemática, iniciada muito tempo antes com os pitagóricos, que “abandonaram a cidade porque eles não gostavam de todas essas discussões sem conclusão, essas vacilações, essas confusões próprias do debate que se produz nas cidades”1; certeza que conquistou credibilidade na proposição de Galileu “toda a natureza está escrita em caracteres matemáticos”; e consolidada nos argumentos de Descartes e a sua certeza existencial pelo pensamento. [leia mais...]

 

 

O sujeito autônomo e os imperativos de gozo

Gabriel Coimbra Carvalho

 

O sujeito moderno tem sua origem no cogito cartesiano a partir do movimento da dúvida enquanto método de conhecimento do real, um conhecimento que seja “seguro”, como postula Descartes no Discurso do método. Este sujeito é um resto, o resultado de uma operação, que por sua vez, nega a propriedade do pensamento, esgotando assim todo conteúdo possível do mental pela égide da dúvida. O que cai é o sujeito vazio, um sujeito que só pode afirmar que se pensa, existe. Uma conexão entre pensamento e ser, que segundo Miller, é uma conexão vazia. Lacan situa ai, o sujeito do inconsciente, pelo seu mesmo caráter evanescente do sujeito do cogito. No lapso, no sonho, bem como no ato falho, o sujeito é momentâneo, fugidio. [leia mais...]

 

 

Trabalhos apresentados na Jornada de Cartéis da Seção São Paulo em 4 de outubro de 2014

 

A elaboração de uma questão sobre o amor

Georgia Soares De Sordi

 

O amor aqui é objeto, objeto de investigação. Entre o impossível da relação sexual e a demanda, demanda de amor, o amor circula por entre a boca dos amantes, dos filósofos, dos artistas, mostrando sua pertinência na cultura, de cada tempo, em cada sujeito. Se o amor está completamente atrelado à cultura, só existe em relação ao Outro, em sua demanda. [leia mais...]

 

 

Um amor furado?

Sílvia Sato

 

No contemporâneo onde os laços são afetados pelo capitalismo, que nada quer saber do amor, e pelo consumismo, favorecendo a relação com o objeto de uso, parece-me importante retomar um lugar que Lacan propõe para o objeto de amor, para o amor, que ele vem em suplência à relação sexual que não existe.
O amor serve-se das palavras, com o que o falasser faz existir o que não existe, ao inventar um Outro para si, onde toma corpo, sai da solidão do corpo próprio em direção a outro corpo. O laço implicado no amor faz suplência ao real que não fala, fazendo falar o real mudo através do que Miller chamou de “encantamento dos significantes”. Campo da linguagem que se por um lado encanta, por outro perturba a relação entre os seres falantes. [leia mais...]

 

 

Sublimação

Elisangela Miras

 

A sublimação, no Seminário 7, de Jacques Lacan, é apontada como um conceito problemático da doutrina freudiana e da responsabilidade do analista. Ela é articulada a outra face das raízes do sentimento ético, no caso, à consciência moral. Lacan a relaciona à Coisa Kantiana, que é o próprio lugar da lei moral. Aproxima o conceito de Trieb ao de Das Ding, estando a primeira próxima ao equívoco. Como postulou Jacques-Alain Miller em Patologia da ética, o mito da libido, para Lacan, é como uma ameba, o gozo é um organismo que não quer e não pode saber nada. Introduz o conceito de Das Ding ao constatar que existe um conflito no homem ligado à busca de satisfação, afirma que é necessário haver um contorno em Das Ding. O objeto é inseparável das elaborações da cultura, e é nesta que a coletividade encontra o seu engodo a respeito de Das Ding. “A sociedade encontra uma certa felicidade nas miragens que lhes fornecem moralistas, artistas, artesãos, fabricantes de vestidos ou de chapéus, os criadores de formas imaginárias”1. Estes são os elementos que recobrem a Das Ding. [leia mais...]

 

 

AGENDA DOS CARTÉIS NA EBP

 

Seção São Paulo

Diretora de Intercâmbio e Cartéis: Cássia R. Guardado

Noite de Cartel
Com a apresentação de 3 trabalhos de cartelizantes enviados para a Jornada de Cartéis da EBP: Eliana Machado Figueiredo, Maria Carolina S.T. Brito e Paula Moreau.
Data: 12 de novembro, quarta-feira, às 21hs
Local: Sede da EBP-SP

 

 

SEÇÃO PERNAMBUCO

Diretora de Intercâmbio e Cartéis: Eliane Batista

Jornadas da Seção Pernambuco
Com a Conferência de Bernardino Horne sobre “Troumatismo” e a apresentação dos trabalhos dos cartelizantes
Data: 7 e 8 de novembro, às 9hs.
Local:  Museu do Estado de Pernambuco.
           

DELEGAÇÃO PARAIBA

Responsável pelos Cartéis: Cleide Pereira Monteiro

Momento Cartel na Delegação Paraíba
Será um espaço destinado à escrita cartelizante daqueles que querem expor suas produções conclusivas ou, ainda, em andamento.
Local: Sede da Delegação Paraíba
Data: 11 de novembro,  às 18h30

 

 

 

COMISSÃO EDITORIAL

Comissão Nacional dos Cartéis da EBP: Paola Salinas (Coordenadora), Inês Seabra, Cristiana Gallo, Cristiane Barreto e Maria Josefina Fuentes (Diretora Secretária da EBP)
Logomarca: Luiz Felipe Monteiro sobre obra de Escher

 

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