Bibliô #11

Junho 2014

Boletim eletrônico das Bibliotecas da EBP

Fernando Coutinho

 

 

Editorial


Mais um Bibliô, o décimo primeiro, proveniente de uma iniciativa da Diretoria de Biblioteca da EBP, que vem dando certo.


Desde o primeiro número essa idéia tem se mostrado um instrumento de grande utilidade, tanto para os membros, aderentes e correspondentes das Seções e Delegações da Escola, como também para nossos inúmeros leitores, amigos e colaboradores.


Numa configuração moebiana, o Bibliô leva ao nosso “exterior” o nosso “interior”, para onde envia e recebe muito mais do que simples informações, ao funcionar como um dos elementos de nossa formação permanente, enquanto analistas.


Nas mais variadas informações dessa publicação virtual, o leitor encontra as atividades que serão desenvolvidas nas seções e delegações, seja no âmbito das nossas sedes, seja em espaços da cidade que se interessam pela psicanálise de orientação lacaniana. Neste número continuamos a publicar textos sobre o importante livro de Joseph Attié (Mallarmé, O Livro), que acaba de ser traduzido em português e continua sendo lançado e celebrado em nosso meio.


Nossa constante colaboradora, Mirta Zbrun, além de comentar a noite de lançamento deste livro, na Maison Française do Rio de Janeiro, apresenta sua nova equipe de pesquisadores do Bibliô Referências, agora dedicado ao Seminário VI de Lacan, O desejo e sua interpretação.


Nossos leitores vão poder acompanhar neste número uma resenha, realizada por Ana Martha Maia, responsável pelo intercâmbio internacional das Bibliotecas, percorrendo os artigos da Colofon 34, revista anual publicada pela FIBOL (Federação Internacional das Bibliotecas de Orientação Lacaniana). O número trata, como muito bem disse a autora na resenha, “da importância que tem o dinheiro na economia do gozo e seu manejo na prática analítica”. Colofon 34 pode ser adquirida em nossas Seções e Delegações.


Será um grande prazer para o leitor, tenho certeza, a leitura da brilhante entrevista realizada por Monica Hage e Júlia Solano com Cristina Leifer, atriz e mentora do projeto baiano, "Bergman no Teatro". De forma original, a artista, ao responder a uma pergunta de uma das entrevistadoras sobre a obra de Bergman e a psicanálise, recorre ao tema da violência, que estamos tratando em nossas jornadas locais e no encontro nacional.
O Bibliô11 continua a cumprir seu papel, que vai além do que se espera de um boletim informativo. Esse número explora, cada vez mais, a função de elemento relevante na edificação do Uno da nossa Escola, dentro da pluralidade das nossas particularidades regionais. Esse Bibliô nos traz projetos e propostas para um futuro trabalho dentro de nossa comunidade:  preparação do próximo Encontro Nacional, o XX, que tratará de violência e trauma urbanos, mas também podemos tomá-lo como um convite para pensarmos nossa prática psicanalítica, sob a ótica do último ensino de Lacan.


Boa leitura!

 

Fernando Coutinho

 

INTERCÂMBIO INTERNACIONAL

Como anunciamos no Bibliô anterior, trazemos neste número um maior detalhamento da Colofón 34 por Ana Martha Maia, responsável pelo intercâmbio internacional das nossas Bibliotecas. Anunciamos que a revista já está à venda nas livrarias de nossas Seções e Delegações.

 

Resenha:  Colofón 34 - O dinheiro: a subversão lacaniana.

"Nada na vida é tão caro quanto a doença e a estupidez." (Sigmund Freud, O início do tratamento, 1913)

A mais nova edição de Colofón, revista da FIBOL (Federação Internacional das Bibliotecas de Orientação Lacaniana),  é dedicada à importância que tem o dinheiro na economia do gozo e seu manejo na prática analítica.


Com este tema proposto por Judith Miller, Diretora da revista, a primeira seção introduz “A subversão lacaniana” do discurso capitalista. Seguindo a direção de Lacan em seu retorno a Freud, analistas das Escolas do Campo Freudiano discutem a diferença entre a lógica capitalista e a lógica do inconsciente. Élisabeth Gurniki sustenta que, embora a psicanálise esteja submetida à lei do mercado, o ato analítico não está, o que possibilita a subjetivação pelo analisante de uma parte do gozo que causa o desejo. Relacionando a noção de mais-valia à função do mais-de-gozar, Anne Ganivet-Poumellec ressalta que o dinheiro se transforma na medida de tudo. A psicanálise surge neste cenário como “Uma profissão nova”, na qual o analista recebe dinheiro de forma diferente. e submete-se à prova da verdade de sua posição, no Passe. Seguindo a equivalência freudiana entre sexualidade e dinheiro, Amanda Goya a ressalta na análise, para quem paga uma sessão e para quem recebe, e faz uma leitura da experiência dos CPCTs como tratamento gratuito, em tempo de curta duração. Gerardo Maeso dialoga com o texto de Goya e afirma que uma psicanálise standard,que se orienta por ideais predeterminados, promove insatisfação e depressão generalizada. O texto de José Luis Rosario relaciona “Dinheiro” à dimensão impossível da palavra e o real do gozo, Jorge Assef mostra a lógica do capitalismo tardio, em sua leitura do filme Wall Street: Money Never Sleeps,e Carmem González Táboas, sobre o dinheiro na cultura indoamericana.


A segunda seção da revista apresenta textos sobre a função singular que tem o dinheiro para cada falasser. Guy Briole relata como foi o primeiro encontro com Lacan e o efeito de um ato do analista, no momento do pagamento, quando o dinheiro fez irrupção no corpo a corpo. Sergio Laia discute a tese freudiana de que a gratuidade aumenta a resistência do neurótico, a partir de sua experiência em um CPCT e uma Clínica Escola vinculada à uma universidade. O texto de Iordan Gurgel demonstra que, nas diferentes formas de relação com o dinheiro, a histérica é negligente, o obsessivo é mesquinho, enquanto o maníaco gasta excessivamente.
Uma vinheta clínica articula dinheiro, corpo e violência no texto de Verónica Carbone, iniciando a terceira seção da revista. Luis Iriarte interroga o laço social em nossa época, a partir da idéia de Bauman sobre uma sociedade de consumidores, e algumas formulações de Lacan. Em “Apostando tempo”, Luis Martínez discorre sobre o dinheiro como objeto de gozo e de que o jogador busca fazer existir o Outro como parceiro na jogada, perguntando se essa lógica se mantém na atualidade.


Na seção “Entrevistas”, o escritor Alan Pauls afirma que seu livro Historia del dinhero “é um relato sobre o que não tem preço”, o dinheiro como aquilo que permite estabelecer diferentes relações entre os personagens. O dinheiro fora de circulação é o projeto artístico de Máximo Gonzáles, artista que ilustra a capa desta Colofón. Em sua entrevista ele fala sobre este projeto, o valor da arte contemporânea e a política.


A quinta Seção, El psicanálisis em la ciudad reúne textos produzidos pelas bibliotecas da FIBOL, que tiveram como atividade Una, a exibição seguida de debate, do filme Uma cita com Lacan de Gérard Miller, seguindo a orientação de Judith Miller. Relatado por Tânia Abreu, o texto de algumas Delegações e Seções da EBP, é intitulado “Objeto de amor”, em referência ao dinheiro como cessão de gozo. Laura Benetti e María Hortensia Cárdenas relatam como foi esta atividade na Biblioteca do Campo Freudiano de Lima, Diana Paulozky na Biblioteca da EOL-Córdoba e Adolfo León Ruiz na NEL-Medellín.


Este número de Colofón apresenta ainda, diversas publicações de outros campos, por Carolina Córdoba, Ignacio Penecino, Ana Viganó, Carlos Márquez, Hécdor García de Frutos e Richard Sennett.  Ao final, as Notícias das bibliotecas sobre suas propostas de ação lacaniana são dadas por Jesús Amabel e Adolfo Ruiz

 

Ana Martha Maia
EBP/AMP – Intercâmbio Internacional das Bibliotecas

 

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BIBLIO INDICA – URBANAS

 

Neste numero de Bibliô, apresentamos o projeto baiano Bergman no Teatro”, idealizado por Cristina Leifer que também é psicóloga e amante da psicanálise. Cristina foi aluna do curso de Especialização em Teoria da Psicanálise de Orientação Lacaniana promovido pelo IPB. Mônica Hage e Julia Solano, colaboradoras da Diretoria de Biblioteca da EBP-Ba, nos ofertam um rico diálogo entre a arte, os livros e a psicanálise. A peça estará em cartaz até 01.06.14 e aguardamos novo calendário para divulgação. Confiram!


ENTREVISTA COM CRISTINA LEIFER

(realizada por Mônica Hage e Júlia Solano)


Em entrevista gentilmente concedida à equipe da Biblioteca da EBP - Bahia, Cristina Leifer, atriz e mentora do Projeto Baiano "Bergman no Teatro" (que tem anuência da Fundação Ingmar Bergman, na Suécia), nos contou um pouco sobre o seu primeiro espetáculo, Sonata de Outono, que estreou no mês de maio em Salvador. A peça, com direção de Aimar Labaki, reunindo profissionais da Bahia e de São Paulo (Cristina Leifer, Thaia Perez e Plínio Soares), narra o reencontro entre mãe e filha, com toda a ambivalência dos sentimentos de amor e ódio presentes nesta relação.  


- Como surgiu a idéia do Projeto "Bergman no Teatro"?


O Projeto "Bergman no Teatro" é um projeto antigo.  Seu filme, Sonata de Outono, me capturou pelo tema central, que é justamente a relação entre mãe e filha. Bergman dizia: “Mãe e filha , um terrível combinação de sentimentos, confusões e destruições.” É poder começar falando dessa primeira relação humana.


- Qual a relação que você pode fazer entre a obra de Bergman e a Psicanálise?


Em Bergman, o tema da violência está explícito e implícito em muitos aspectos, começando pela sua própria história. Ele veio de uma família luterana ortodoxa e conviveu com um pai muito repressor e agressivo.  A fantasia de Bergman o salvou. Ao assistir um filme de Bergman, inevitavelmente somos tocados por esses elementos, o que me leva a crer que ao assistir seus filmes, de alguma forma, nos colocamos na posição de analisandos.  Bergman sempre nos fala da alma humana, de nós mesmos.


- Sabemos que além do amor, a violência e o ódio também estão presentes na relação mãe e filha. Como você vê essa questão a partir deste trabalho?


A minha personagem diz durante a peça: “Eu sempre fiz todos os seus desejos.” Penso que toda filha em algum momento se coloca na posição de tentar realizar o desejo da mãe. A relação entre mãe e filha é, ao mesmo tempo, sempre uma relação de amor e ódio. Quando ambas não conseguem dialogar sobre essas questões, geralmente se dá a violência.


A sonata de outono, na verdade, é o outono de Eva, a filha. É Eva se desfolhando, atravessando o inverno para chegar à primavera. Essa pra mim é a metáfora da peça.  No início da peça, Eva a filha, em posição infantilizada, tem esperanças de mudar a sua mãe. A partir da questão feita pela mãe “você me ama?”, ambas começam a travar um diálogo no decorrer do qual a Eva infantilizada vai os poucos dando lugar à Eva madura, que consegue se responsabilizar pelas escolhas e aceitar a mãe como ela é. 


- Como surgiu a idéia de o ingresso da peça ser a doação de um livro? Por que pensaram em livros? Isso nos toca de perto por cuidarmos de Bibliotecas!


Quanto mais incentivo pudermos dar à literatura, à poesia, melhor. A partir da poesia, o mundo se abre para cada um. A idéia, então, é poder doar esses livros arrecadados às bibliotecas comunitárias.

 

ATIVIDADES NAS SEÇÕES E DELEGAÇÕES

 

SEÇÃO BAHIA

Há Um na casa vazia

“A solidão do Um nos Corpos e nas Cidades”, um dos eixos do "XX Encontro Brasileiro do Campo Freudiano", nos serve de horizonte para debater o filme “Casa Vazia”, de Kim Ki-duk (2004). É no cenário da cidade, quando as pessoas estão fora de suas casas, que o filme acontece. O personagem principal é um outsider que ex-siste em torno do vazio e do silêncio, que habita nas casas que ele invade. Aparentemente um distribuidor de panfletos, sua vida se resume a adentrar nas moradias, limpá-las, consertar aparelhos estragados, lavar roupas e fazer selfies com as fotografias dos moradores.


Imerso no cenário da cidade, o personagem principal destaca-se como Um-sozinho. Ele dorme a cada dia em uma dessas "casas vazias", até encontrar uma mulher, aparentemente tão "invisível" quanto ele. Apesar de serem dois, que trocam olhares e fazem pactos através do silêncio, podemos pensar que “a parceria se faz apenas com a alteridade encarnada por um corpo que se goza”. Trata-se de uma metáfora da solidão do Um.
A solidão do Um remete à “disjunção do gozo e do Outro, a disjunção do homem e da mulher sob a forma de a relação sexual não existe”, como diz Miller em Paradigmas do Gozo. Trata-se do gozo do Um que passa ao largo do Outro, “idiota e solitário”. Essa formulação nos faz repensar o lugar do analista e desde onde ele opera, a partir da virada teórica empreendida no último ensino lacaniano, pois há efeitos na alteridade Um e Outro, mesmo que o Um “não acesse o dois”, como nos ensina Lacan em ...Ou Pior.


O filme animou o debate a respeito de um aspecto que ressoa na clínica de nossa época: a solidão do Um nos corpos e nos consultórios. Para o século XXI, os psicanalistas são convocados a construir um saber sobre os sintomas que denunciam a inexistência do Outro, emudecidos por certa precariedade do simbólico ou nomeados pelo Outro da ciência, de forma não dialetizável, com a oferta de diagnósticos pret-a-porter.

 

Carla Fernandes e Rogério Barros

 

SEÇÃO MINAS GERAIS

Diretora Responsável: Laura Rubião

 

ACONTECEU

 

No dia 29 de abril de 2014 nos reunimos em torno do precioso trabalho de Joseph Attié  sobre a obra de Mallarmé. Nossas colegas, Yolanda Vilela e Márcia Rosa Vieira, abordaram com maestria elementos da vida e da obra desse poeta, ao mesmo tempo obscuro e subversivo, destacando suas afinidades com o percurso de Freud e Lacan no campo da Psicanálise.


 Yolanda situou Mallarmé como um poeta que esteve à frente de seu tempo, não sem provocar reações de espanto e incompreensão entre muitos de seus contemporâneos. Determinado, mergulhou fundo no propósito de liberar a linguagem do cárcere descritivo e de seus propósitos utilitaristas. Visceral, expôs com contundência os percalços, pontos de parada, de suspensão e, até mesmo, de horror do seu fazer poético: “Eu comecei o meu Herodíade. Com terror, pois eu invento uma língua que deve necessariamente brotar de uma poética muito nova, que eu poderia definir com estas palavras: pintar, não a coisa, mas o efeito que ela produz. Escavando o verso a esse ponto, encontrei abismos, que me desesperam. Um deles é nada (neánt)”.
A obra de Mallarmé não deixa de ser um tratamento possível para essa experiência abissal como nos aponta Attié, e é nesse contexto que surge sua concepção d’O Livro como “síntese de todas as artes e de todos os gêneros, ao mesmo tempo diário, teatro e dança, feito de folhetos separados”.


O poema Um lance de dados de 1897, assinala Yolanda, instiga e precipita rumos inteiramente novos, inéditos para a poesia. Rejeitando as esterilizantes formas fixas e o verso-livre (álibi para todas as acomodações), Mallarmé passa a organizar o espaço gráfico como campo de força natural do poema. Ele se vale dos mais diversos recursos tipográficos, sempre num plano de funcionalidade, para criar numa constelação de relações temáticas, que ele chama de subdivisões prismáticas da Ideia.  Com esse processo, pode-se dizer que Mallarmé, colocando “em situação” a sua própria obra e a poética moderna, “opera, através da poesia, a junção da música com a arquitetura visível”.


Márcia Rosa faz um recorte da contribuição de Attié a partir do nome sinthomático, privilegiado por esse autor para definir o poeta: Mallarmé, O Livro.


O Livro Mallarmaico, projeto de uma vida, definido como uma explicação poética do mundo, apenas se deixa apreender na perspectiva legada por Maurice Blanchot do ‘livro por vir”, que permaneceria atado ao intervalo do tempo futuro, como obra aberta ao infinito. Esse Livro, concebido pelo poeta como Obra Ideal que pudesse "ocupar o lugar de todos os livros e do próprio mundo", instaura-se como impossível, ao mesmo tempo que se impõe como necessidade que emoldura sua inexistência, sempre lançada no horizonte da atividade poética.


Essa armadura que faz borda a um furo sempre persistente, se ela nos remete, como assinala Attié, à noção de estrutura (anotada por Mallarmé como o substrato mínimo contido nas letras do alfabeto) amplamente explorada pelo Lacan dos anos 50, ela evoca, por outro lado, as formas constelares da criação poética predominantes no século XX.


O gesto inaugural de Mallarmé, que antecede e prepara o caminho da modernidade, desloca formas clássicas de composição, como o verso, a linearidade do tempo narrativo (princípio, meio e fim) e funda a perspectiva caleidoscópica do poema, que explora seu espaço ideogramático como numa constelação, sempre a evocar o leitor como coautor do que se escreve. “Crise do verso”, eis o nome encontrado por Mallarmé para identificar a implosão do significante, que não mais seria o suporte de uma cadeia que engendra o sentido, mas que se pulveriza à maneira do enxame (essain), evocado por Lacan ao final de seu ensino, recorda-nos Márcia.


Na esteira dessa ruptura, tomaram forma os caligramas de Apollinaire, as idiossincrasias poéticas de Cunnings, o movimento concretista encabeçado pelos irmãos Campos.  Sabemos quanto, o modo de vida contemporâneo, se vale dessa lógica fragmentária que dispensa o enredo narrativo e a ancoragem no sentido, gerando uma nova concepção do inconsciente, composto de traços como memórias de gozo, como signos de gozo. A dimensão do constelar como figura da dispersão, do múltiplo, do acaso, gera o recurso da amarração, do Um, do que dá forma à contingência, ao modo de  uma escritura borromeana,.  Ao retomar o trabalho de Attié sobre Mallarmé, Márcia nos remete à segunda clínica de Lacan, em sua ênfase nas insígnias de gozo que se desprendem da cadeia, como peças soltas alijadas do sentido comum.

 

Laura Rubião

 

SEÇÃO RIO DE JANEIRO

Diretor Responsável: Fernando Coutinho

 

ACONTECEU

Programa "Rumos da Psicanálise de Orientação Lacaniana - Uma Parceria da Biblioteca da EBP-RIO e da Mediateca da Maison de France".

 

EVENTO JOSEPH ATIIÉ /MALLARMÉ
A projeção do filme sobre Mallarmé, cujo conteúdo é a fala de Joseph Attié, aconteceu no Cine Maison, no Rio de Janeiro, em 31 de março de 2014.  Na abertura foram lidos textos sobre a obra de Joseph Attié Mallarmé- O livro, pelos convidados cujos textos se publicam. São eles: Abner Chiquieri (tradutor da obra), Manoel Barros da Motta (organizador do livro) e os psicanalistas Romildo do Rego Barros, Heloisa Caldas, Isabel Lins e Ana Beatriz Freire. 


“Mallarmé O Livro. Estudo Psicanalítico”, obra do psicanalista francês Joseph Attié, foi publicado recentemente no Brasil pela Editora Forense Universitária, graças à iniciativa de Manoel Barros da Motta. Vale ressaltar, além do valor da obra em si mesma, o significativo prefácio assinado por François Regnault.


 Após a abertura, com a leitura dos textos e a projeção do filme, aconteceu um instigante debate entre os convidados e o público presente, interessado especialmente nas questões que o filme levanta, relacionadas com a psicanálise e suas conexões, neste caso com a obra literata.


O Evento contou com a coordenação de Fernando Coutinho, Diretor de Biblioteca da EBP-RJ e de Mirta Zbrun, responsáveis pela parceria entre a EBP-RJ e a Mediateca da Maison de France.
Rio de Janeiro, abril de 2014.

 

Resenha por Mirta Zbrun

 

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SEÇÃO SANTA CATARINA

Diretora responsável: Laureci Nunes

 

ACONTECEU

Em 15 de maio de 2014 teve lugar nas dependências da EBP– Santa Catarina, mais uma das "Noites de Biblioteca", desta vez com o lançamento e venda de “Mallarmé. O Livro – Estudo psicanalítico” de Joseph Attié. Laureci Nunes, Diretora de Biblioteca, ao abrir os trabalhos e apresentar a videoconferência de Joseph Attié, destacou que, desde os princípios da psicanálise, a relação com a literatura sempre foi uma questão de interesse – a ser percebida, por exemplo, nos textos “Escritores criativos e devaneios” [1908], de Freud, “Lituraterra” [1971] e “Joyce, o Sintoma” [1979], ambos de Lacan. Na videoconferência, que contou com a tradução de Paulo Siqueira, Joseph Attié além de expor seu apreço pelas pessoas e paisagens do Brasil, procurou assinalar a importância do cruzamento, através de um exercício de releitura e de pensamento, dos textos de Mallarmé com as formulações apresentadas por Lacan. Logo em seguida, Daniel Félix passou à leitura do ensaio “O Luto e o Saber sobre a morte na Poética de Mallarmé”, no qual apresentou um comentário em torno da emergência do sujeito barrado [$], no movimento de elaboração do luto pela morte prematura de Anatole, filho de Mallarmé. Por outro lado, não esquecendo que o nome do filho Anatole em grego, remete ao por do sol, e recuperando uma frase de Joseph Attié, segundo a qual é o filho quem faz de um homem um pai, a leitura de Daniel Félix deu lugar inclusive à consideração, de que o grande Outro também está barrado [?]. Essas questões, que atravessaram tanto a conceituação lacaniana da sublimação quanto a relação entre invenção e sinthoma, foram debatidas posteriormente por Louise Llulier e pelos demais presentes, que lotaram o auditório.

 

Diego Cervelin
(doutorando em literatura –UFSC, aluno do curso Psicanálise da Orientação Lacaniana)

 

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DELEGAÇÃO ESPÍRITO SANTO

Diretora Responsável – Tânia Prates

Atividades da Comissão de Biblioteca da Delegação Espírito Santo da EBP em junho.
Leitura da Orientação Lacaniana 2014
No mês de junho continuaremos trabalhando o texto de Jacques-Alain Miller Extimidad (RMILLER, J. A. Extimidad. Buenos Aires: Paidós, 2010).
Coordenação: Tânia Mara Alves Prates (Aderente da Delegação ES da EBP) - Coordenadora da Biblioteca-Delegação ES.
Data e Hora: Atividade semanal - terças-feiras às 20h30, sede da Delegação Espírito Santo da EBP
- 03 de junho – Capítulo XVII Una clínica de la evacuación de goce – Tânia Regina Martins.
- 10 de junho – Capítulo XVII Una clínica de la evacuación de goce – Tânia Regina Martins
- 17 de junho – Capítulo XVIII El Outro no existe – Sylara Hartung Araújo
- 24 de junho – Capítulo XVIII El Outro no existe – Sylara Hartung Araújo

 

A COMISSÃO DE BIBLIOTECA DA DELEGAÇÃO ES DA EBP CONVIDA PARA A ATIVIDADE “CINEMA E PSICANÁLISE”.

 

ACONTECEU
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Exibição do Filme “O Discreto Charme da Burguesia” de Luis Buñuel (França, Itália e Espanha, 1972), no dia 17 de maio de 2014 às 9 Horas, na Sede da Delegação Espírito Santo da EBP, Alameda Mary Ubirajara, 40 sala 501 - Ed. Nacap, Santa Lúcia, Vitória, ES. Fone: 27 3345 8133.

 

Esta é a oitava edição do "Cinema e Psicanálise" nesta gestão. Já foram exibidos os filmes:


- Elena de Petra Costa (Brasil 2013), proposta da EBP, em setembro de 2013;
- Rendez vous avec Lacan – proposta da EBP, em setembro de 2013;
- A excêntrica família de Antônia, de Marleen Gorris (Holanda 1995), seguido de um debate sobre o feminino, em outubro de 2013;
- Salò ou Os 120 dias de Sodoma, de Pier Paolo Pasolini (Itália/França, 1975), para discutir as perversões no sentido estrito, em novembro de 2013;
- Tudo o que eu sempre quis saber sobre sexo, mas tinha medo de perguntar, de Woody Allen (EEUU, 1975), para discutir as questões da sexualidade na subjetividade, em fevereiro de 2014.
- Os boas vidas (I vitelloni) de Frederico Fellini (Itália, 1953), para discutir as questões do masculino.
- Joseph Attié – Mallarmé o livro de Guy Baudon (França, 2014).
- O discreto charme da burguesia, de Luis Buñuel (França, Itália e Espanha, 1972).


Buñuel apresenta sonho e realidade como uma banda de Moebius. Ele mostra, também que, apesar de todo o charme, a violência se apresenta no âmago do humano. Ele consegue colocar em cena a relação dos humanos com os impasses da vida com tamanha clareza, que causa perplexidade a quem assiste a este filme. A tentativa de tratar a pulsão pela via da civilização fracassa e aparece nos mal entendidos, nos sonhos, nas falas, como é mostrado claramente na sequência de cenas do filme.


É um filme incrivelmente freudiano.

 

DELEGAÇÃO PARANÁ

Responsável: Célia Winter

 

ACONTECEU

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DELEGAÇÃO GERAL ´GOIÁS - DISTRITO FEDERAL

Diretora Responsável: Ordália Junqueira

ACONTECEU

 

O Núcleo de Pesquisa e Psicanálise com Criança, "Biloquê", no dia 06/05 trabalhou o tema central de estudo da NRCEREDA "O traumatismo e o real na clínica: O que as crianças inventam?" no "I Preparatório para a VII Jornada da Delegação Geral GO/DF", no auditório da Faculdade de Psicologia da ALFA, para cerca de 250 pessoas, estudantes, profissionais e professores. A partir de duas vinhetas clínicas e apresentação de um curta de animação, "A infância de Aninha", filme que trata sobre a infância de Cora-Coralina, foi possível fazer um recorte sobre a questão do trauma na criança e como cada uma pôde inventar um sintoma para dizer sobre o seu encontro com o real. O trauma, apontando para um furo no simbólico, e desvendando na criança o real da sua posição de objeto no encontro com o desejo do Outro, do objeto rejeitado por não atender ao ideal do Outro, do objeto maltratado diante da violência materna e da posição da criança de assujeitado diante do Outro. Na clínica, a criança apontando o seu inconsciente real, aquele que agita o corpo e provoca sofrimento no falasser da criança, que precisa ser subjetivado para sair da posição de objeto. (por Ceres Leda)


O Núcleo de Pesquisa em Psicanálise e Educação – NUPPE-DG-GO/DF, trabalhou o tema “A violência da/na escola no século XXI: uma leitura psicanalítica”, no "II Preparatório" no dia 19/05, também na Faculdade Alfa, na Jornada de Psicologia e Pedagogia com auditório lotado de alunos, profissionais e professores. Inicialmente foi feita uma introdução norteando como a Psicanálise e a Educação podem “conversar”. A violência foi trabalhada em quatro campos de pesquisa, a saber: na educação infantil com o Caso Lisbela; na “violência da educação para com os textos/criações/escritores/poetas e com os professores nas instituições de ensino no séc. XXI”, trabalhando o recorte do testemunho de um professor universitário; em seguida foi apresentado “o real do desamparo que a liberdade revela”, pontuado por Fernanda Otoni com alguns recortes do filme O senhor das moscas, juntamente com o testemunho de Ondina Machado na “prática dos corredores em uma escola da Maré”, trabalho que tenta transformar o que se manifesta em ato em discurso. Para finalizar com “porta de ouro”, trabalhamos o “saber-fazer” com a violência na/da escola com o “Caso Coralin(d) a e sua Mestra Silvina, iluminada de uma nova dimensão poética”. O encerramento foi poetizado em música e verso, com a música “Da palma da mão de Cora”, apresentada por André Lopes, seu compositor.

 

Ordália  Junqueira

 

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Bibliô Referências - Seminário 6 de Jacques Lacan

Iniciamos agora a publicação de mais um "Bibliô Referências", desta vez a pesquisa bibliográfica se refere ao Seminário livro 6 O desejo e sua interpretação”.  Muito além de ser mais um dos seminários de Lacan, Jacques - Alain Miller ao publicá-lo, nos convida especialmente a ler nele, “uma intervenção de Lacan”. Anterior no tempo ao seminário VII “A ética da psicanálise”, “O desejo e sua interpretação” se insere na primeira época do ensino de Lacan, quando este, em seu retorno a Freud, percorrerá o caminho que o levará a postular o Pai na função de sintoma. A Pesquisa bibliográfica deste seminário publicada no Boletim DR, é resultado do trabalho de uma equipe formada por colegas da EBP de diferentes Seções e Delegações que, ao utilizarem o método de leitura, escolha de temas e proposições a serem propostas de cada capítulo do livro, concluem com as referências nele utilizadas por Lacan. Nesta primeira versão on line, os leitores de "Bibliô" encontrarão essa pesquisa em sua forma “enxuta”, que tem a finalidade de instigar o leitor a buscar uma leitura ampliada, a ser publicada posteriormente. Estudar hoje “O desejo e sua interpretação” abrirá para os psicanalistas de orientação lacaniana, as portas da clínica do século XXI, “aquela dos novos objetos de gozo, novos laços e novos lugares do sujeito”. Os nomes dos colegas envolvidos nessa pesquisa dirigida à Escola, estão logo no inicio deste primeiro número.  Desejamos que todos possam servir-se desse delicado trabalho.

Mirta Zbrun

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BIBLIÔ REFERÊNCIAS

Referências do Seminário Livro 6 de Jacques Lacan: “O Desejo e sua Interpretação” - (1958-1959)
Pesquisa realizada por: Mirta Zbrun (Coordenação); Clarisse Boechat; Lenita Bentes; Leonardo Scofield; Maria Aparecida Malveira; Paula Legey; Patricia Paterson; Vicente Gaglianone; Rodrigo Fraga;

 

INTRODUÇÃO: É PRECISO TOMAR O DESEJO AO PÉ DA LETRA
TEMA I: A PALAVRA DESEJO


Lacan dedica seu sexto seminário, ao trabalho que versa sobre a interpretação do desejo. Ele adverte que o desejo não é uma função biológica, nem é correlato a um objeto natural, mas que seu objeto é fantasmático. Por esse motivo, a interpretação é a única operação que pode incidir sobre o desejo e captá-lo, em alguma medida. É preciso tomar o desejo ao pé da letra, nos diz Lacan (1958) em A Direção do Tratamento, referindo-se à noção de que o desejo se articula pela demanda. Ele apresenta o desejo como o que se manifesta no intervalo cavado pela demanda aquém dela mesma, na medida em que o sujeito, ao articular a cadeia significante, traz à luz a falta-a-ser com o apelo de receber seu complemento do Outro, que é o lugar da fala, e também o lugar dessa falta. Reintroduzir a palavra "desejo" nesse seminário, é fundamental para precisar os mal-entendidos que a palavra possa suscitar. Deve-se buscar o desejo inconsciente nas trilhas das cadeias significantes, uma vez que o Outro do significante é também o Outro do desejo. Este último é marcado pela primazia dos significantes primordiais, que vão determinar nas cadeias, as ações, fantasias e sintomas do sujeito.

 

PROPOSIÇÕES:
A. OS POETAS E A FORÇA DO DESEJO
B. OS FILÓSOFOS E SUA ÉTICA


AUTORES CITADOS

Ronald Fairbairn (1949) A revised psychopathology of the psychosis and psychoneurosis. The International Journal of Psychoanalysis, Vol. 22, p. 250-270.


Fairbairn é indicado por Lacan no primeiro capítulo do seminário O desejo e sua Interpretação,  como o representante mais típico dos psicanalistas adeptos das teorias da relação de objeto. Fairbairn privilegia a abordagem da personalidade, em detrimento do aspecto libidinal, afirmando que a libido não busca o prazer (pleasure-seeking), mas o objeto (object-seeking). Essa vertente teórica é criticada por Lacan, para quem a libido é a energia do desejo, que não tem um objeto fixo ou predestinado.


Sigmund Freud (1912).Sobre a Tendência Universal à depreciação na Esfera do Amor. Edição standard brasileira das obras psicológicas completas, Vol. XI. Rio de Janeiro Imago, 1996.


Jonh Donne. The Extasie. Em Poèmes. Paris: Gallimard, 1962.


Poeta metafísico inglês citado por Lacan, cujo escrito O Êxtase é um poema célebre, reconhecidamente complexo, com uma característica dramática bastante acentuada e imagens visuais marcantes. Lacan pontua que se evoca neste poema, o problema da estrutura das relações do desejo.


Baruch Spinosa (1661-75) Ética. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2007.


O filósofo propõe que, toda realidade humana se organiza em função dos atributos da substância divina, definida como “aquilo cuja existência depende apenas de si mesmo”. Lacan indica que Spinosa rompe com uma tradição filosófica que exila o desejo do campo do humano, uma tradição que identifica o humano a uma moral de domínio do mestre. Spinosa é, aos seus olhos, o precursor de algo novo no sentido da relação do homem consigo mesmo, afinal, é de Spinosa a fórmula segundo a qual “o desejo é a própria essência do homem”.


Aristóteles. Ética a Nicômaco. São Paulo: Martin Claret, 2001.


Filósofo grego, aluno de Platão. Sua ética é um estudo da virtude (areté). Na Ética a Nicômaco ele indica uma equivalência entre bem e felicidade: “[...] nosso objetivo é tornar-nos homens bons, ou alcançar o grau mais elevado do bem humano. Este bem é a felicidade; e a felicidade consiste na atividade da alma de acordo com a virtude”.


REFERÊNCIAS DE PESQUISA

Lacan, J. (1958) A Direção do Tratamento e os Princípios de seu poder. Em: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
Grierson, H. (1921) Metaphysical lyrics and poems of the seventeenth century: Donne to Butler. Oxford, Clarendon Press. Disponível em: <https://archive.org/details/metaphysicallyr00griegoog>.


TEMA II: O GRAFO, UMA FORMA DE ESCRITURA

O uso por Lacan do termo grafo, remete à teoria matemática dos grafos, e nos ensina que devemos tomá-lo também como “gramme”, em francês, que é proveniente do grego e significa letra, escritura. O grafo é um tipo especial de escritura, que Lacan constrói ao longo dos seminários 5 e 6. Pode-se dizer que este é a primeira topologia de Lacan, da qual se servirá por dez anos, de 1956 a 1966. No "grafo do desejo" a estrutura fundamental nos é dada pela noção e localização do desejo. No seminário 8, A transferência, Lacan afirma que “esta é a forma geral, o desdobramento fundamental de duas cadeias significantes onde se constitui o sujeito.” O que chamamos desejo é a distância que o sujeito pode manter entre as duas linhas, pois é aí que respira durante o tempo que lhe é dado viver.


REFERÊNCIAS DE PESQUISA

Lacan, J. O Seminário, livro 5: As formações do inconsciente. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.
______ O Seminário, livro 8: A transferência. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1992.
TEMA III. “O DESEJO É A METONÍMIA DA FALTA-A-SER”

 

PROPOSIÇÕES:

A. O DESEJO É METONÍMICO
B. CHE VUOI?

 

AUTORES CITADOS

Jacques Cazotte (1772) O Diabo Enamorado. Rio de Janeiro: Imago, 1992.
Escritor francês, considerado precursor do relato fantástico e autor de Le Diable Amoureux, publicado em português com o titulo O Diabo enamorado.


Charles Robert Darwin (1875) On the origin of species by means of natural selection or the preservation of favoured races in the struggle of life. Chicago, Encyclopedia Britannica, 1952.


Nasceu em uma família próspera e culta; seu pai um médico respeitado e seu avô paterno Erasmus, poeta, médico e filósofo. Em 1825, foi para Edimburgo estudar medicina, mas abandonou a carreira. Mudou-se para Cambridge e, disposto a se tornar um sacerdote anglicano, tornou-se amigo do botânico John Stevens Henslow com quem aprofundou seus conhecimentos em história natural, matéria na qual seu talento se manifestava desde a infância.


REFERÊNCIAS DE PESQUISA

Lacan, J. A instância da letra no inconsciente ou a razão desde Freud. Em: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.


Miller, J.A. Perspectivas dos Escritos e Outros Escritos – “Coisas de Fineza”. Décima Quinta Lição, 13.06.2009.

 

CAPITULO II
SUPLEMENTO DE EXPLICAÇÃO
TEMA I. O SUJEITO DO CONHECIMENTO E O SUJEITO LACANIANO

Esse capítulo é atravessado por uma pergunta: o sujeito falante sabe o que faz, falando? Lacan faz uso do cogito cartesiano para abordar essa questão. Ele afirma que, na fórmula cartesiana, estão presentes dois sujeitos. O primeiro equivale ao localizado no andar inferior do grafo do desejo, no contexto da demanda, que ainda não se tornou um sujeito falante. Fazendo outra referência ao campo da filosofia, Lacan indica que se trata do sujeito do conhecimento, "aquele que está em transitivismo com o objeto". No segundo andar do grafo ele localiza o sujeito que assume o ato de fala e se situa a partir do enigma do desejo do Outro.

 

PROPOSIÇÕES:

A. O SUJEITO KANTIANO DO CONHECIMENTO
B. OS DOIS JE NO COGITO CARTESIANO

 

AUTORES CITADOS

Jean Paul Sartre: La transcendance de l’ego. Em: Recherches philosophiques, n. 6, 1937.
Nesse texto, Sartre faz um estudo sobre o cogito, situando a existência de uma consciência reflexionante e uma consciência refletida. A consciência reflexionante não toma ela própria como objeto quando realiza o cogito, o que ela afirma, diz respeito à consciência refletida. "[...] assim, a consciência que diz 'eu penso' não é precisamente aquela, a reflexionante que pensa" (p.191).
Edward Glover: La technique de la psychanalyse. Paris: PUF, 1958.
Psicanalista inglês, criou a noção de núcleo do eu, através da qual definiu uma série de comportamentos do bebê.

 

REFERÊNCIAS DE PESQUISA

Cazotte, J. O Diabo Enamorado. Rio de Janeiro: Imago, 1992.
O Diabo Enamorado conta a história de um homem, Álvaro, que ao invocar o diabo, é atendido por uma cabeça de camelo que lhe pergunta com uma voz retumbante Che vuoi?. Álvaro ordena que o diabo se torne um cachorro, depois seu criado, porém aos poucos ele vai tomando a forma de uma bela mulher. Essa pergunta, Que queres?, é tomada por Lacan como a resposta do Outro ao ato de fala do sujeito, um ponto de interrogação a partir do qual o desejo poderá se situar.


Descartes, R. (1641). Meditações. (Os pensadores). São Paulo: Abril cultural, 1983.


Jakobson, R. Les embrayeurs, les catégories verbales et le verbe russe. Em: Essais de linguistique générale. Paris: Minuit, 1963.


O shifter é um elemento linguístico que varia em função do ato da mensagem. A palavra eu, por exemplo, é um shifter na medida em que eu pode ser um sujeito x ou y, só identificado numa mensagem específica. A palavra ontem também é um shifter, pois o dia de ontem só se define em função da data em que se articula a frase. O termo vem da língua inglesa e foi traduzido para o francês em algumas ocasiões como embrayeur.
Kant, I. (1800) Lógica. Rio de Janeiro: Tempo brasileiro, 1992.


Lacan, J. O estádio do espelho como formador da função do eu. Em: Escritos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.


TEMA II. HÁ ALGO DE PARADOXAL NA FANTASIA

Neste capítulo, Lacan avança seus desenvolvimentos acerca da fórmula da fantasia ($◊a), sujeito barrado punção pequeno a, apresentada pela primeira vez em As formações do inconsciente.Em Apresentação do seminário 6, Miller afirma que este seminário “contém, elabora a primeira lógica da fantasia que Lacan construiu”. Contudo, as proposições que Lacan formula nos capítulos 1 e 2 já evidenciam que nesta “primeira lógica”, a fantasia inconsciente ocupa um lugar paradoxal. Por um lado, ainda não há propriamente um objeto pulsional, condensador de gozo, o pequeno a da fantasia é procedente da relação imaginária instituída pelo estádio do espelho e derivado da imagem do outro, do próprio corpo concebido como objeto; a pulsão, por sua vez, é veiculada pelos significantes da demanda e não pelo objeto pequeno a. Por outro lado, o trabalho em curso parece ter, em seu cerne, as tentativas de Lacan, suas idas e vindas, tensionamentos, a fim de forjar a entrada da libido na fantasia, ainda que não haja um objeto pulsional formalizado.

 

PROPOSIÇÕES:

A. EU TE IMPLICO NA MINHA FANTASIA FUNDAMENTAL OU: EU TE DESEJO
B. LIBIDO, A ENERGIA DO DESEJO
REFERÊNCIAS NA OBRA DE LACAN
Lacan, J. O Seminário, livro 5: As formações do inconsciente. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.
REFERÊNCIAS DE PESQUISA
Lacan, J. A direção do tratamento e os princípios de seu poder. Em: Escritos. Rio de Janeiro. Jorge Zahar, 1998.
Miller, J-A. Presentación del Seminário 6. Disponível em: <http://nel-medellin.org/blog/presentacion-del-seminario-6-por-jacques-alain-miller/>
______, J-A: O Outro sem Outro. Disponível em: <http://www.scribd.com/doc/170317493/El-Otro-Sin-Otro-Jacques-Alain-Miller>
Pedro Abelardo. A História das Minhas Calamidades. Ed. São Paulo: Abril Cultura, 1984 (Os Pensadores).
Pedro Abelardo, nascido em 1709, foi um filósofo escolástico francês, teólogo e lógico. Ficou conhecido por seu relacionamento com Heloísa de Argenteuil, abadessa e escritora. Em História das Minhas Calamidades, Abelardo fala de seu encontro com Heloísa, que fora sua aluna e sua posterior relação ilícita, que continuou até Heloísa ter um filho, chamado Astrolabius. Abelardo casou-se secretamente com Heloísa, até que Fulbert, tio de Heloísa, em sua ira, puniu Abelardo castrando-o enquanto dormia. Após a castração, Heloísa entrou para um convento e Abelardo para um mosteiro, quando começou uma correspondência apaixonada e erudita entre os dois amantes.


TEMA III. O DESEJO FREUDIANO NA ESCRITURA DO GRAFO

No segundo capítulo do Seminário 6, Lacan retoma a distinção, já indicada no Seminário 5, entre o desejo freudiano - o Wunsch - e a sua própria forma de abordar o desejo na escritura do grafo. Segundo Hanns (1996), o termo alemão Wunsch pode ser corretamente traduzido por 'desejo'. Na língua alemã, entretanto, o termo pode ser empregado de formas mais específicas, conforme o contexto. De acordo com o autor, “no texto freudiano, Wunsch vincula-se a determinadas palavras do campo preponderantemente representacional e se diferencia de Lust (vontade/ desejo/ prazer) e de Begierde (desejo intenso, sofreguidão)” (p. 136). O caráter sexual e o sentido mais imediato do termo “desejo”' não estão contidos na palavra alemã Wunsch e, nesses casos, os termos Lust e Begierde são mais adequados.


PROPOSIÇÕES:

A. DO DESEJO EM FREUD – A INJEÇÃO DE IRMA
B. NÃO É QUALQUER DESEJO – O WUNSCH ARTICULA OS DOIS ESTÁGIOS DO GRAFO

 

AUTORES CITADOS

Damourette e Pichon. La personne étoffée. Em: Des mots à la pensée. Essai de Grammaire de la langue française. Paris: d’Artrey, 1970.
Sigmund Freud. A Interpretação dos sonhos (parte II) (1900-1901). Em: Edição standard brasileira das obras psicológicas completas, Vol. V. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
________ O recalque (1915). Em: Obras psicológicas de Freud, escritos sobre a psicologia do inconsciente, Vol. I. Rio de Janeiro: Imago, 2004.
________ O Inconsciente (1915) Em: Obras psicológicas de Freud, escritos sobre a psicologia do inconsciente, Vol.II. Rio de Janeiro: Imago, 2006.
REFERÊNCIAS NA OBRA DE LACAN
LACAN, J. O Seminário, livro 5: As formações do inconsciente (1957-1958). Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1999.
REFERÊNCIAS DE PESQUISA.
Hanns, L. Dicionário comentado do alemão de Freud. Rio de Janeiro: Imago, 1996.
Miller, J.A. Presentacion del seminario VI. Boletin Latigazo n.1, 2013. Disponível em: <http://www.latigolacaniano.com/español.html>

 

 

CAPITULO III
O SONHO DO PAI MORTO
“Ele não sabia que ele estava morto”
TEMA I. O SUJEITO DO SIGNIFICANTE

 

Dando continuidade à distinção entre demanda e desejo iniciada no capítulo II, Lacan introduz a relação do sujeito com o significante, através do caso clínico de um sujeito obsessivo. Do lado da demanda, salienta que esta é caracterizada pelo fato de ser uma relação entre sujeitos, especificamente, pela via do significante. Do lado do desejo, o que vemos é enigma, sendo o desejo situado como guardião do sono e como desejo de morte. Mantendo fidelidade a seu estilo, introduz, a título de preâmbulo, a questão do associacionismo, para discutir a especulação psicológica, sem, contudo, perder de vista o par sujeito x significante, eixo central deste capítulo.

 

PROPOSIÇÕES:

A. ASSOCIACIONISMO COMO PRINCÍPIO
B. A ASSOCIAÇÃO LIVRE E A DETERMINAÇÃO DO REAL
C. CONTIGUIDADE E COMBINAÇÃO DISCURSIVA
D. A CEREJA E A MESA

 

AUTORES CITADOS

Parmênides de Eléia. Pré-socrático, nascido em Eleia, hoje Vélia, na Itália. Escreveu um poema filosófico, em versos, intitulado Sobre a natureza. Suas ideias versam sobre a verdade e a opinião. A ideia central deste autor é que “fora do ser o não ser nada é", forçosamente admite que só uma coisa é, a saber, o ser, e nenhuma outra.

 

REFERÊNCIAS DE PESQUISA

Hillix, A. William. Marx, Melvin H. Associacionismo. Em: Sistemas e Teorias em Psicologia. São Paulo: Cultrix, p.123-152.
Freud, S. Extratos dos Documentos Dirigidos a Fliess (1892-1899). Em:Edição standard brasileira das obras psicológicas completas Vol. I. Trad. De Jayme Salomão. Rio de Janeiro: Imago, 1977.
Souza, J.C. (Seleção de textos e supervisão) Pré-socráticos. Em: Os Pensadores. São Paulo: Nova Cultural Ltda., 1996. p.117-127.

 

TEMA II. INCONSCIENTE E PULSÃO

Neste capítulo, Lacan diferencia afeto de representação, fazendo referência a essas duas vertentes da pulsão: a do representante da representação inconsciente – o significante, as marcas de escrita, propriamente dita – e a do afeto, que se desloca entre as representações. Com Freud, em O Inconsciente (1915), Lacan concebe que há, no inconsciente, apenas marcas de escrita (Niederschriften). Isso implica dizer que Lacan descarta a concepção de afeto inconsciente, como aquilo que está reprimido na verdade de um corpo que palpita e que, sendo liberado, daria acesso a um índice de real.

 

PROPOSIÇÕES

A. MARCAS DE ESCRITA
B. AFETO E PULSÃO

 

REFERÊNCIAS DE PESQUISA

Lacan, J. O Seminário, livro 11. Em: Os quatro conceitos fundamentais da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998.
Freud, S. O Inconsciente. Em: Obras psicológicas de Freud, escritos sobre a psicologia do inconsciente. Vol. II. Rio de Janeiro: Imago, 2006.
________ Formulações sobre os dois princípios do acontecer psíquico. Em: Obras psicológicas de Freud, escritos sobre a psicologia do inconsciente. Vol. I. Rio de Janeiro: Imago, 2004.

 

TEMA III. O SONHO DO PAI MORTO

Recalque – elisão – metáfora
Lacan retoma o texto de Freud (2004), Formulações sobre os dois princípios do funcionamento mental, considerado por ele “o melhor guia” para investigar a interpretação do desejo no sonho. Ele destaca o manejo freudiano do Vorstellungsrepräsentanzen e a concepção do que opõe o princípio do prazer ao princípio de realidade, como sendo a satisfação pelo significante. O sonho referido é de um sujeito em luto por seu pai. No sonho, o pai está vivo e lhe fala, tal como fazia há pouco. O sujeito experimenta, de forma dolorosa, o sentimento de que seu pai já está morto, mas este último ainda não o sabe. Lacan adverte para o equívoco de relacionar o sonho ao “wishful thinking”. Freud trata o sonho pelo significante, dando sentido ao seu texto. A partir do texto do sujeito, Freud interpreta que “seria doloroso lembrar-se de que teria sido preciso desejar a morte de seu pai e quão espantoso seria se ele questionasse isso”.

 

PROPOSIÇÕES

A. RECALQUE E INTERPRETAÇÃO
B. ELISÃO E METÁFORA
C. A FUNÇÃO DO FANTASIA

 

AUTORES CITADOS

École de Marburg.
A história do pensamento alemão na segunda metade do século XIX é marcada por um renovamento espetacular do Kantismo. Lacan evidencia o pensamento sem imagens.
Sigmund Freud. Formulações sobre os dois princípios do acontecer psíquico. Em: Obras psicológicas de Freud, escritos sobre a psicologia do inconsciente. Vol I. Rio de Janeiro: Imago, 2004.

 

REFERÊNCIAS DE PESQUISA.

Brentano – Psychologie. Curso frequentado por Freud, do qual ele pode ter extraído a noção de VorstellungPsychologie von Empirischem Standpunkt (Psicologia segundo o ponto de vista empírico) de 1874. A segunda edição desta obra inclui ainda, Von der Klassifikation der Psychischen Phänomene (Sobre a classificação dos fenômenos psíquicos).


Formatação final: Paula Issberner Legey

 

 

COMISSÃO EDITORIAL

Redação: Tânia Abreu
Equipe: Mirta Zbrun, Fernanda Otoni, Ana Martha Maia, Laureci Nunes e Bernadette Pitteri
Coolaboradores: Fernando Coutinho (RJ), Laura Rubião (MG), Nilton Cerqueira (BA), Cynthia Freitas (SP), Carolina Queiróz (PE), Laureci Nunes (SC), Célia Winter (PR), Anícia Ewerton (MA), Aparecida Andrade de Lima (MG/MS), Ordália Alves Junqueira (GO/DF), Cristina Maia (PB), Tânia Prates (ES) e Cláudia Formiga (RN).
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