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    OS MORTOS-VIVOS E A PSICANÁLISE: DOS ZUMBIS AOS ARREBATADOS PELA IMAGEM

    Mas nada parecia antecipar o sucesso cultural e a verdadeira avalanche de zumbis na cena contemporânea, cujo emblema mais conhecido é a série televisiva The Walking Dead (2010). Em um mundo pós-apocalíptico dominado por mortos-vivos, sobreviventes precisam lutar para encontrar refúgio. A Cultura se espraiou para todo lado. Uma visita rápida a uma loja de jogos em um shopping center da cidade comprova: não existe mais nenhum jogo de ameaça extraterrestre, agora as crianças se divertem atirando em zumbis, quer dizer, matando o que já está morto, num jogo virtualmente infinito. O drama edípico de Skywalker ou os desafios neuróticos do Dr. Spock parecem não mais ter lugar no mundo que saltou das telas para as ruas.

    Os mortos-vivos estão não apenas nas ruas, nas cracolândias, mas também nos divãs. Enquanto o guloso Pac-Man se drogava com pílulas, nas quais ainda impera uma certa economia do prazer-desprazer dose-dependente (o prazer subitamente se transforma em desprazer, o remédio se torna ameaça, o feitiço se volta contra o feiticeiro), os mortos-vivos contemporâneos usam crack e seus subprodutos, rompendo completamente essa economia. Não há drama edípico, nem lógica neurótica do retorno do recalcado, nem transformação econômica do prazer em desprazer. Estamos diante de um novo tipo de subjetividade, com seus regimes próprios de satisfação e suas formas próprias de não fazer laço.

    O livro de Henri Kaufmanner é uma leitura aguda da contemporaneidade e dos modos de produção de corpos que lhe são característicos. O ângulo a partir do qual o autor aborda o problema é não apenas inédito, como extremamente fecundo: o olhar, ou, mais precisamente, a experiência segregativa de não-ser-visto. Segundo suas próprias palavras: “O que estaria em jogo onde o olhar não alcança, quando não se está enquadrado no campo das imagens, que, diante da luz do mundo, acabam se constituindo a partir do espelho do Outro? É nesse estranhamento inenarrável que localizamos a presença da morte em vida” (p. 11)

    Os zumbis escancaram a lógica contemporânea de uma forma de gozo infinito, não dialetizável, opaco ao olhar. Não por acaso, fornecem a figura e o fundo de problemas aparentemente apartados uns dos outros: os craqueiros, o racismo, os muçulmanos nos campos de concentração nazistas. Em todos esses casos, Kaufmanner descobre a ausência absoluta da função do semblante, o que implica em corpos arrebatados, habitando um mundo sem sombras. Tal como “os homens feitos às pressas” do Presidente Schreber, vagamos, todos e cada um de nós, em um mundo sem espelhos e sem anteparos.

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    PRIMO LEVI

    SINOPSE

    A leitura de Primo Levi – a escrita do trauma, é belamente marcada pela própria leitura de Lucíola sobre a operação de Levi com as letras: a de um trabalho incansável a partir da escrita e do testemunho em torno do impossível de dizer. É justamente sobre o paradoxo que se abre entre a possibilidade de se transmitir algo de uma experiência traumática – aquela que constituiu Levi sobrevivente de um Campo de Concentração nazista – e a impossibilidade de se colocar em palavras essa experiência que se sustenta na pesquisa da autora em torno da obra de Primo Levi. É justamente na tensão entre o poético e o político que Levi transmite o intransmissível.

     

    SUMÁRIO

    Prefácio – Romildo do Rego Barros

    Apresentação – Antônio Teixeira

    Carta ao Leitor

    Abertura

    1. A coisa nazista e a coisa-coisa

    Contos fantásticos de Primo Levi

    A zona cinzenta e o difícil caminho da verdade

    Os labirintos de Acteão

    As raízes poéticas da zona cinzenta

     

    1. Das Ding, a Coisa freudiana

    A Coisa. O vazio e o objeto de arte

    Elevar o objeto à dignidade da Coisa

    Extimidade

    A Coisa e o problema do mal

    A biopolítica e o racismo na contemporaneidade

     

    1. A escrita do trauma

    A Coisa, o objeto a e o pedaço de real

    Um pesadelo, um poema

    A queda

    Afogar-se no mar de dor: a culpa do sobrevivente

    O sonho dentro do sonho, a angustia e a voz

     

    1. O vórtice e o pedaço de mal

    O inferno dantesco e o canto de Ulisses

    O buraco negro de Auschwitz

    O abismo de um vão

    Centauros, anfíbios e híbridos

    O oximoro e o pedaço de real

     

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    RUÍDOS E SILÊNCIOS DA VIDA CONFINADA

    A pandemia entrou em nossas vidas com o roteiro já escrito por Hollywood. Desde a moda dos disaster movies dos anos 70, não há um ano que a terra não seja destruída por cometas, terremotos, vírus e zumbis. Sem uma narrativa própria do horror, iniciamos a pandemia projetando nossos piores pesadelos no mundo existente no outro lado da porta. Rapidamente muitos hábitos mudaram, as casas passaram a ter suas portas manchadas pelo álcool e água sanitária, houve um boom dos serviços delivery e das vendas de produtos para home office. As redes sociais também mudaram. As selfies desapareceram, passamos ao mundo das lives, novo modo de mostrar que o corpo ainda está vivo. Custou um tempo para compreender que teríamos que inventar nosso próprio fim de mundo, sem trilhas sonoras, sem letreiros no fim nem grandes heróis. Nossos heróis dessa vez não morreram de overdose, morreram à deriva, abandonados por políticas que se afastaram da conversação democrática.

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    A MORTE DE SI

    Unindo uma escuta de três décadas na clínica analítica a uma fina leitura de Freud e Lacan, e atravessando a literatura, o cinema, a filosofia e os estudos sobre suicídio, A morte de si é sobre o conflito que inventa nossas existências, a luta entre Thanatos e Eros que levamos a cabo até o último minuto.

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    A LENDA NEGRA DE LACAN

    A única biografia existente sobre o maior psicanalista francês se construiu sob o pretexto da objetividade, mas continua a fazer ressoar essa lenda. Nela, sua autora Élisabeth Roudinesco, ao desconsiderar que não se deve ser o historiador da história em que se está incluído, negligencia o que Lacan dizia de si próprio e da prática a que dedicou grande parte de sua vida, deixa-se levar por sua transferência negativa em relação ao homem que conheceu primeiro socialmente e passa ao largo dos efeitos de sua clínica e de seu ensino.

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    MAIS ALEM DO GENERO: O CORPO ADOLESCENTE E SEUS SINTOMAS

    SINOPSE

     

    O Observatório da Criança e do Adolescente – OCA reúne três núcleos de pesquisa vinculados a programas de pós-graduação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e o Núcleo de Investigação Clínica do Hospital Universitário da UFMG (HC-UFMG). O objetivo da constituição desse Observatório foi de poder compartilhar as investigações realizadas nestes núcleos sobre temas diversos que envolvem a condição da criança e do adolescente no mundo contemporâneo, sob o enfoque da psicanálise. Nesta perspectiva, Ana Lydia Santiago, Cristiane de Freitas Cunha, Cristina Vidigal, Libéria Neves e Nádia Laguárdia de Lima constituíram um Cartel – Rumo à adolescência. No âmbito deste primeiro Cartel OCA, foram promovidos encontros periódicos que geraram estudo, interlocução interdisciplinar, produção de artigos e a organização do Colóquio Mais além do gênero: o corpo adolescente e seus sintomas, em maio de 2016, auspiciado pelo Instituto de Psicanálise e Saúde Mental de Minas Gerais (IPSM-MG), pelo Centro Interdisciplinar de Estudos sobre a Criança (CIEN) e pelo Centro de Pesquisa sobre a Criança no Discurso Analítico (CEREDA). Os núcleos que integram o OCA se pautam pela psicanálise e reivindicam a orientação lacaniana na prática da extensão e da pesquisa/intervenção, que busca não apenas constatar um problema, mas modificá-lo, de forma a favorecer a inclusão e o laço social para os sujeitos implicados nas investigações. Assim, contemplam as dimensões da pesquisa e da extensão, mas também se dedicam à vertente do ensino, a partir de entrevistas e discussão coletivizada de casos, construções de casos e sua publicação volta das para a formação de professores e de futuros profissionais das áreas da saúde, psicologia e educação.

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    O AVESSO DA BIOPOLÍTICA: UMA ESCRITA PARA O GOZO

    SUMÁRIO

     

    1. INTRODUÇÃO. Entre vazio e imagens

    As imagens do corpo ao zênite

    O corpo e seu vazio

    Ter um corpo, (não) ser em parte alguma

    O autorretrato impossível

     

    1. O CORPO ENTRE VAZIO E EXCESSO

    O momento “Radiofonia”

    Topologia do ser que fala

    O efeito de superfície e o fora-do-corpo

    A sepultura como escrita

    Forma lógica do excesso de gozo

     

    1. O QUE FAZ SINTOMA PARA UM CORPO

    Sintoma histérico, sintoma de mulher

    Do sintoma histérico ao sinthoma

    O sintoma como acontecimento de corpo

    O corpo que uom tem

    A mulher sintoma

    Lógicas do acontecimento de corpo

    A consistência do “fazer sintoma”

     

    1. O GOZO DO CORPO SUSTENTA O SINTOMA

    Crer nisso: no sintoma, em uma mulher

    Retorno lacaniano às identificações freudianas

    Gozo do sintoma que se tem

    Nomes e nomeação

    Do sinthoma como suplência

     

    1. DA SUBLIMAÇÃO COMO GOZO

    A sublimação e o esquecimento do ser de gozo

    O escabelo: do forçamento à manipulação

    O corpo desconhecido: entre imagem e furo

    O Outro no corpo

     

    1. UMA LÓGICA DE SACOS E DE CORDAS

    O significante muito perto da escrita

    A escrita apoio e a escrita impressão

    A reta suporte

    A corda e o furo

    Uma nova metonímia: a cadeia de enquadramentos

    Um novo lapso

     

    1. GOZAR A CORPO PERDIDO

    Sublimação e perversão

    O corpo e sua perda

    Destacamento do corpo e masoquismo

    O corpo sem imagem e a escrita como “fazer” primeiro

    As diz-mensões e o conjunto vazio

    O erro de escrita do nó em Joyce

    Saber do corpo, saber do inconsciente

    A consistência do ego que corrige

     

    1. JOYCE E A PRAGMÁTICA DO SANTO HOMEM

    Joyce como artista e como santo

    O santo e sua castração

    A via da farsa

    O destacamento do corpo e o discurso do mestre

    O escabelo e o inconsciente

    O jetodarte de Joyce e o pai

    O corpo de uom e a história

    Joyce trans Lacan pós-joyceano

     

    1. O IMPOSSÍVEL RETRATO DO ARTISTA

    Rembrandt: os autorretratos e o impossível de ver

    Rothko: o corpo da abstração

    Gehry: o en-fôrma do objeto

     

    1. CLÍNICA E PRAGMÁTICA DO CORPO FALANTE

    O sinthoma e a supervisão

    Os tipos clínicos na época do falasser

    A declaração de igualdade das consistências

    O passe e o falasser

    Castração e escabelastração

     

    1. O FALASSER POLÍTICO

    Por que o inconsciente político

    A era digital e a escuta absoluta

    O sintoma acontecimento

    Segurança e liberdade

    Um grito silencioso em marcha

    Acontecimento de corpo, avesso da biopolítica

     

    1. CONCLUSÃO. ESCREVER O CORPO-GOZO

    Falar em apoio

    A escrita: um “fazer”, não um “dizer”

    Falar a língua do corpo é fazer rezonar

    1. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

     

    AGRADECIMENTOS

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