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EDITORIAL

Caros colegas, leitores da C.E.,

A recém-empossada Diretoria Executiva da Escola Brasileira de Psicanálise inicia seus trabalhos no momento em que nossa última Assembleia Geral acabava de aprovar seu novo Estatuto. Junto dele, foram aprovadas também as propostas, que passaram a ser chamadas de Nova Geografia, de reestruturação das denominadas Delegações da Escola.

Parece-me importante que nos detenhamos um pouco em tais propostas uma vez que o funcionamento que se pretende implementar ao longo dos dois próximos anos repercutirão – tanto quanto veiculam – questões muito além de uma simples reorganização espacial das antigas Delegações.
IX EBCF
Podemos constatar que a lógica subjacente à criação das Delegações no momento em que elas se constituíram1 foram regidas por dois princípios que hoje podemos questionar: o primeiro, seguindo um entendimento do espaço como predominantemente imaginário, definiu-as a partir de sua localização geográfica. E um segundo, que acabava por se articular ao primeiro, ancorado numa apreensão do tempo que também fazia por imaginarizá-lo em demasia. Subjacente a tal apreensão estava a ideia de progresso, esse termo desde sempre alheio à psicanálise e que supunha que, “com o tempo” as Delegações evoluiriam, como que naturalmente, para permanentes Seções. Vinte e quatro anos depois foi possível repensar tal lógica localizando o que havia ali de equivocado. Nem uma referência geográfico/euclidiana nos é suficiente, nem a ideia de progresso nos convém. Então, Delegações que se articulam a e em Seções regidas por uma lógica que deverá ser a de Escola, onde o espaço será aquele delimitado pelos significantes que nos ordenam, num tempo onde a fala e os escritos de cada um terão a chance de afirmar a atualidade de nossa prática.

Essa é a aposta da Diretoria que por hora assume, onde a Correio Express deseja ser o veículo ágil e em sintonia com o que se passa entre nós!

Esse número, o primeiro de uma nova série, repercute, em duas novas rubricas, Ecos e Porvir, pontos importantes de nosso último Congresso, como também, num texto de Henri Kaufmanner, o tema do próximo ENAPOL!

Boa leitura!

Sérgio de Castro
Diretor Geral de Escola Brasileira de Psicanálise

1 A Delegação Paraná vem a se constituir por percalços um pouco diferentes, mas que, parece, acabaram por mantê-la nessa mesma lógica.
ECOS


XIII CONGRESSO DE MEMBROS DA EBP

O XIII Congresso de membros da EBP, O jogo das paixões na experiência analítica, ocorrido entre os dias 12 e 14 de abril na cidade de São Paulo, foi um momento de intensa produção epistêmica, política e clínica. A tarde de conversação se destacou como um momento singularmente vivo, encontrando seu ritmo e seu modo de acontecer ao longo das colocações e intervenções dos colegas, que se estenderam até o final do dia. Os dois eixos propostos para a conversação (“O jogo das paixões na análise” e “O jogo das paixões e a escola sujeito”) produziram elaborações e questões valiosas, que ressoaram entre os presentes, e seguem produzindo ecos. Nesta nova rubrica da Correio Express, acolheremos textos e comentários de colegas a partir de questões que os tenham tocado em nossos eventos. A proposta é a de, ao deixarmos decantar os efeitos dos encontros, recolhermos alguns dos sedimentos produzidos em nossa comunidade, um a um. Diferente da prática da resenha, essa rubrica se pretende um espaço para que deixemos ressoar os ecos e, com isso, registrar o que segue, como questão ou como elaboração.


Conversação e comunidade analítica |
por Flávia Cêraleiamais


Sobre o impossível de suportar |
por Maricia Ciscatoleiamais

 
PORVIR

Está no “porvir” a potência daquilo por trás da falta do que tem lugar de representação. É esse o lugar-tenente que, vez ou outra, nos desperta do sonho do sentido, é esse o real que comanda nossas atividades, e é a psicanálise que o designa para nós. Essa é nossa força pulsante, pulsional, o Trieb sempre porvir.1

O porvir remete-nos à fala última de Macabéa, dita, nas letras de Clarice, "bem pronunciada e clara":

Quanto ao futuro.2

É uma afirmação entre dois pontos indizíveis, que assinala a força do presente por não negar o furo – dele, carrega o ato criativo. Assim como Picasso do “Eu não procuro, acho”,  Macabéa encontra aí o delimitado que expande os horizontes.

É do estatuto paradoxal do trauma, que irrompe e se repete, que vamos construindo, em torno do furo,  o futuro, nossas próximas atividades, orientados por essa repetição que demanda a busca de uma significação sempre nova e jamais esgotada.
Nesta Correio Express nº11, apresentamos um instigante texto de Henri Kaufmanner em torno de questões levantadas pelo IX ENAPOL, porvir.

1 LACAN , J. O Seminário, livro 11: os quatros conceitos fundamentais da psicanálise. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1998, p. 61.
2 LISPECTOR , C. A Hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998, p .85.


Nós
|
por Henri Kaufmannerleiamais

 
EXPEDIENTE
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