Biblioteca da EBP – SP – Para que uma biblioteca na Escola?
Camila Colás (EBP/AMP)
A partir da questão feita por Judith Miller: “para que uma biblioteca? Isso poderia ser perguntado para todo trabalhador decidido do Campo Freudiano” [1] na ocasião da publicação do primeiro Boletim da Federação Internacional de Bibliotecas do Campo Freudiano, a Diretoria de Biblioteca da Seção São Paulo lançou-se ao trabalho, junto com alguns outros. Para Judith, além de conservar os livros e fazer-se lê-los, a biblioteca pode ter outras vertentes:
Não poderia ter cada biblioteca do Campo Freudiano seu agalma dedicado a uma edição particularmente cuidada, até original ou qualquer outro achado? […] Sustentar polêmicas, praticar a discussão em novas fontes que permitam manter o Campo Freudiano ao lado das luzes.[2]
Qual seria o agalma da biblioteca da EBP-SP? Quais atividades que poderiam sustentar polêmicas ou colocar em causa temas importantes? Como vivificar o espaço da biblioteca e fazer o leitor se interessar pelos livros e publicações?
Nesta direção, algumas propostas de trabalho foram realizadas. Na primeira atividade, em junho de 2025, contamos com a participação de Camila Popadiuk, Diretora de Biblioteca EBP-SP (biênio 2023-2025) e Márcia Stival, Diretora de Biblioteca da EBP (biênio 2023-2025) para abordarem o tema “Publicações – Qual o lugar da Revista em uma Seção da EBP?”. Com esta atividade, foi possível percorrer a história da Revista Carta de São Paulo e durante o debate questões foram suscitadas. Diante do empuxo tudo a publicar, o que deve ser publicado? Quem se interessa pelas nossas publicações?
Na discussão, ficou claro como a Revista em uma Seção ocupa um lugar político, de transmissão e de registro, privilegiando a produção da enunciação de cada Seção. Uma pergunta decorrente desta atividade permanece acesa na direção do trabalho: “como fazer com que a revista, enquanto um produto, não se torne um objeto dejeto, mas adquira o estatuto de um objeto causa de desejo?”[3]
Neste dia, também realizamos na Biblioteca uma exposição de todas as edições da Revista Carta de São Paulo, organizada pelo bibliotecário Felipe Salles. Uma ação nomeada “Enlace das Cartas de São Paulo” reuniu números antigos da Revista que foi entregue aos participantes da Seção. Uma iniciativa da Comissão de Biblioteca[4] para fazer as publicações circularem e chegarem ao seu leitor. Uma nova modalidade de Intercâmbio foi realizada através do trabalho do bibliotecário Felipe Salles Silva com a Biblioteca Mário de Andrade e as bibliotecas das Universidades públicas e particulares de São Paulo. Enviamos os últimos 10 números da Revista Carta de São Paulo para fazer parte do acervo. Assim, com as publicações estando em outros lugares da cidade, algum leitor poderá encontrá-las!
Na atividade Leituras da Biblioteca trabalhamos a Conferência 23 do Freud, “Os caminhos da formação de sintomas” (1917), articulado com o tema de trabalho da Diretoria da EBP-SP: “Ler um sintoma na época em que o Outro não existe”[5]. Dividimos o texto em quatro eixos de orientação. Sintomas neuróticos, satisfação do sintoma, sexualidade infantil e fantasia na formação dos sintomas. Um trabalho sustentado pelos participantes da Comissão e que será publicado na rubrica, Biblioteca, no próximo número da Revista Carta de São Paulo.
Como última atividade do ano tivemos Manhãs da Biblioteca. O texto escolhido foi Luto e Melancolia (Freud, 1917). Heloísa Prado R. da Silva Telles foi a convidada e nos entusiasmou em como leu o texto. Trouxe para a discussão a publicação do livro de Victor Tausk[6], contida no Acervo do Nicéas, pois Freud o cita em uma nota de rodapé. Falou das novas traduções do texto e trouxe o caso da Sra. Gi. de Freud, sobre uma mulher melancólica, a partir de uma publicação da Revista La Cause Freudienne[7] para pensarmos a melancolia a partir de um novo estatuto do sujeito em relação ao objeto. Uma leitura que iluminou a partir de muitas publicações e nos colocou questões sobre a perda do amor de si e o que não se sabe o que perdeu nele. Heloísa nos traz uma pérola de Lacan, pois ele se orientou a partir deste texto para inventar o objeto pequeno a. “Freud escreveu, evidentemente, sobre o luto, mas quem soube traduzir isto, em termos sensíveis? Para ser sincero, se um dia inventei o que era o objeto a, foi por que estava escrito em Luto e Melancolia. Literalmente, eu só tive que me deixar guiar.”[8]
Tivemos um ano de muito trabalho, sustentando debates e leituras do que concerne o “para que uma biblioteca na Escola”. Seguimos nesta direção, não sem continuar conservando o acervo físico, adquirindo novas aquisições e em como divulgá-las para o leitor ter acesso. Mantemos o desafio de vivificar o espaço físico da biblioteca, assim, como o Acervo do Nicéas que em breve será reinaugurado na sede da EBP-SP.
