Seminário de Orientação Lacaniana na Seção Rio de Janeiro da EBP
Ana Beatriz Zimmermann (EBP/AMP)
No Seminário de Orientação Lacaniana, do dia 4 de agosto de 2025, na Seção Rio de Janeiro, que tivemos a alegria de escutar Andréa Reis (EBP/AMP), teve como título “O real na instituição analítica”, que interrogou a conexão entre a estrutura institucional da Escola e a prática analítica, tendo o real como ponto crucial.
Andréa destacou a pergunta, tão cara, que estamos nos fazendo atualmente, tanto na Escola como no Instituto: como ensinar o que a psicanálise nos ensina? Ou seja, como fazer para passar de uns a outros o que a psicanálise só ensina de um a um? Acrescento uma pergunta: como circunscrever o que é o mais singular em cada um e poder partir da análise para o coletivo, fazendo assim reverberar a psicanálise na cidade? Vale lembrar que, no ano passado, Romildo do Rêgo Barros dedicou um seminário na Seção Rio sobre o ensino e transmissão, cujo texto também podemos contar neste número da revista.
Acompanhamos Andréa no seu trabalho fino de demonstrar o percurso histórico-político que Lacan fez em relação à psicanálise, à Escola. Destaco essa frase importante de sua apresentação: “a criação da Escola não foi resultado da inspiração de Lacan, ou de um capricho seu, mas, sim resultado de fraturas que se deram em torno de uma crise institucional”. A Escola então não foi algo idealizado, se inventou a partir da crise, das fraturas, de uma descontinuidade.
Andréa se apoia em duas frases orientadoras do texto de Lacan “Proposição de 9 de outubro de 1967 sobre o psicanalista da Escola”[1]: “existe um real em jogo na própria formação do analista” e, em seguida, “esse real provoca o seu próprio desconhecimento, ou até produz a sua negação sistemática”. E em Miller, com o ato analítico, Andréa demarca os diferentes estatutos do real em Lacan, mostrando os impasses no ensino de Lacan, inclusive como no seu primeiro ensino a tentativa de “domesticar o real. Como coletivizar o que é impossível de se escrever? Os testemunhos dos AE fazem esse esforço a cada vez, demonstrando que os psicanalistas são produzidos por sua ‘analizância’. Em psicanálise há o real, mas o real que não se escreve, o real próprio do inconsciente, aquele que responde à fórmula não há relação sexual”. Tema que iremos tratar no próximo da AMP.
Andréa destaca uma frase em relação ao real que me parece de suma importância. Trata-se de uma zona irremediável da existência, o que fez lembrar do incurável que cada parlêtre porta.
Em sua apresentação me ecoou a colocação milleriana de que tomemos cuidado com a possível felicidade institucional. É preciso, então, uma dose de mal-estar para que o universal dos grupos não elimine as diferenças de cada um.
Uma indicação importante que destaco do sobrevoo por este SOL é que tomar a Escola como um sujeito a ser constantemente interpretado, como propõe Miller, na Teoria de Turim, talvez seja a única maneira de sustentar algum laço com a zona irremediável — incurável.
Para concluir, Leonardo Gorostiza[2], no discurso de saída da presidência do Conselho da EOL, sublinha o que, a meu ver, se articula com este SOL a partir do texto de Miller Campo Freuadiano, ano zero sobre a ‘abjeção’ dos psicanalistas[3]. A abjeção que surge quando os psicanalistas não estão à altura do discurso ao qual dizemos servir e cedemos aos encantos das identificações que formam massa. Se a tendência à identificação, que forma massa é uma tendência “natural” do sujeito, afrouxar essa tendência, inclusive na Escola, é o objetivo de toda política que se pretenda analítica.
