Editorial Correio Express nº033
A Correio Express é a revista online da Escola Brasileira de Psicanálise. Desde sua criação, em 2017, ela se dirige aos interessados pela orientação lacaniana, estejam eles vinculados ou não ao Campo Freudiano. Sua proposta é a de seguir na construção de um espaço entre a velocidade das redes e a atenção demorada de uma revista impressa. Assim, ao alcance de um clique, o leitor terá acesso ao trabalho produzido em nossa comunidade, cujas elaborações prezam pela consistência teórica e pelo rigor da experiência com a psicanálise de orientação lacaniana.
A Correio Express, desse modo, busca se inserir no debate atual com um toque de subversão, como uma zona êxtima capaz de incidir tanto sobre si mesma e aquilo que veicula quanto sobre cada um que entre em contato com seus materiais. Entre 2025 e 2027, a equipe editorial será formada por Flávia Cêra, Diretora das Bibliotecas da EBP, por Carla Serles e Diego Cervelin como editores, com a colaboração de Ana Beatriz Zimmermann, Anamaris Pinto, José Augusto Rocha, Letícia Rosa, Milena Crastelo, Veronica Montenegro e Wilker França. A partir deste número, cada edição da Correio Express contará com as seguintes rubricas:
- Sobrevoos, para dar destaque ao vivo do encontro que se escreve nas sete Seções da EBP, materializando – através do múltiplo – algo do Uno que atravessa os trabalhos na Escola;
- Zeitgeist, para olhar e ouvir as questões que permanecem abertas entre a clínica e o laço social. Trata-se, por um lado, de localizar significantes que condensam algumas possibilidades de leitura e, por outro, de colher as invenções oriundas do confronto dos analistas seja com o mal-estar, seja com a constante perturbação produzida nos corpos que habitam o “mundo”;
- Zona êxtima, para abordar e aprofundar nos temas candentes da formação do analista, da transmissão da psicanálise, bem como dos desdobramentos clínicos, éticos, políticos do discurso analítico. Trata-se, além disso, de uma aposta em seguir causando desejo de Escola;
- Bibliô e Dobradiça , que abrigarão o material enviado pela Diretora de Biblioteca, Flávia Cêra, e pela Diretora de Cartéis e Intercâmbio, Laura Rubião..
Nesta Correio Express, os sobrevoos foram elaborados a partir de algumas atividades propostas em cada uma das sete Seções da EBP no primeiro semestre de 2025. Esses sobrevoos, contando com o estilo de cada convidado, destacam a atenção especial ao modo como, nas atividades de Biblioteca, nas preparatórias das jornadas, nos Seminários de Orientação Lacaniana, os casos clínicos, os conceitos e rearranjos da clínica, bem como os diferentes produtos da cultura – livros, filmes, séries, músicas – interpelam os analistas e os participantes de cada seção. Esses sobrevoos, além do mais, destacam a força do real no encontro com a língua, zelando pela emergência do sujeito e pela dignidade de seu dizer.
Este número da Correio Express também foi se construindo em torno da noção de acontecimento, já que ele “só se inscreve sobre o fundo de impossível”[1], ao mesmo tempo em que reconfigura os possíveis. Em Zeitgeist, isso trouxe uma discussão em torno da violência como excesso que engendra uma zona irrepresentável. Nesse sentido, Gustavo Dessal pensa o supremacismo como forma contemporânea da luta de classes, que, de um só golpe, abre margem para um narcisismo das grandes diferenças e para a criação das comunidades castradas. Cleyton Andrade, com base no texto freudiano, concebe a estética do Estado violento, que se nutre do gozo e da violência que existe na linguagem. Marcus André Vieira e Giovanna Quaglia apresentam os produtos da experiência no Congresso Nacional, graças ao movimento de articulação contra a regulamentação da psicanálise. Trata-se, assim, da miragem da democratização da psicanálise através da legalização de cursos de graduação.
Em Zona êxtima, o impossível e a reconfiguração dos possíveis trouxeram à tona o tema do impossível de ensinar. Romildo do Rêgo Barros, dialogando com Freud e Lacan, apresenta a transmissão como algo que se dá no avesso do ensino e muito mais no registro da contingência. Por fim, sete colegas – Analícea Calmon, Cláudia Formiga, Elisa Alvarenga, Nohemí Brown, Renato Vieira, Tatiane Grova Prado e Valéria Ferranti – respondem à questão “como foi o seu encontro com o impossível de ensinar?”, destacando o corpo a corpo perpassado por furos e impasses com os textos da psicanálise, com as surpresas da clínica e da própria análise, com os limites do saber universitário, na medida em que isso também descortina a possibilidade de um querer saber não-todo.
Em Bibliô, Cristina Drummond e Niraldo de Oliveira Santos respondem à pergunta “Por que ler o Seminário 14, A lógica do fantasma, hoje?”. E Sérgio Laia apresenta um comentário do mais recente livro de Bernardino Horne, Envejecer: el duelo por sí mismo. Em Dobradiça, Gladys Martínez é entrevistada pelos Diretores de Cartéis e Intercâmbio das sete Seções da EBP.
Lembramos que as imagens que ilustram este número da Correio Express compõem a série das “garafunhas” elaboradas por Artur de Vargas Giorgi – a quem agradecemos.
Boa leitura!
Carla Serles e Diego Cervelin
