Desencontro fecundo
Nohemí Brown (EBP/AMP)
Nada nos prepara para o encontro com a psicanálise. Sempre há uma escolha. O encontro com a psicanálise, especialmente, com os textos de Lacan, sempre tem algo de fora de lugar, fora do tempo, fora do sentido. Esse foi o desconcerto desde meu primeiro encontro com um pequeno texto de Lacan na universidade, mais do que encontro parece algo da ordem do desencontro. Contudo, se isso aconteceu com esse primeiro texto de Lacan é algo que ainda acontece. Podemos dizer, sempre estamos iniciando. Mas o desejo de saber mais nos leva, pelo menos me levou, a um encontro com o divã. A decifrar o sintoma e reconhecer do que não se “quer saber nada”. Se partimos de um desencontro, é no divã onde ele se mostra como um desencontro fecundo. O encontro traumático se transforma em um certo querer saber e a possibilidade de novos encontros. Isso pode levar a um trabalho junto aos outros, como foi meu caso, e ao encontro com a psicanálise como um orientador, inclusive no campo com outros saberes. Algo sem forma, mas que ao mesmo tempo insiste, e que se produz como efeito de formação.
É difícil separar o trabalho de elaboração de saber na análise com o trabalho de leitura e transmissão de um saber, mas podemos dizer que não se confundem. De certa forma, se coloca no centro o ‘desconcerto”[1], o “não quero saber nada” …, mas o desafio é como fazer dele causa? Isto não é sem consentir à experiência analítica para fazer disso um desejo inédito que permita extrair algo com valor de ensino.
O que a experiência analítica, nesse desencontro fecundo, situa que se não se retrocede, os embrolhos ensinam. De certa forma, ser tolos sabendo que pensamos com debilidade e nos embolamos, mas que com isso há que saber se virar.
