Cinco vezes o impossível
Tatiane Grova Prado (EBP/AMP)
Encontrei, por acaso, cinco vezes a frase “não estou entendendo nada” falada em diferentes âmbitos do Instituto de Clínica Psicanalítica do Rio de Janeiro no semestre passado.
A relação entre psicanálise e entendimento é permeada por nãos: ela não se submete a ele, não se sustenta a partir dele, e isso é o mínimo a dizer sobre a não articulação entre uma e outro. Mesmo advertida, de variadas formas, desses nãos, talvez a repetição dessa frase em um curto tempo e a ocupação de funções no Instituto de alguém que deveria ensinar e acolher os que chegam, fizeram com que ela me perturbasse. Ela proporcionou me aproximar do que falha e do impossível que o ensino da psicanálise coloca, mais uma vez.
Decidi escrever, numa espécie de diário de bordo, o jeito como cada um que me disse essa frase operou com o seu não entendimento. Em cada uma das cinco vezes, um elemento transferencial se apresentou, de forma contingente, diante do buraco que essa frase colocou seus falantes.
Como “só aprende quem topa tropeçar”[1], aprendo, de novo: diante do impossível de sistematizar a psicanálise como um saber a ser transmitido sem restos, a transferência funciona como seu suporte, o que se coloca como aposta. A cada vez. A questão na qual darei mais algumas voltas é: como sustentar, no Instituto, essa aposta?
