Atividade preparatória das VI Jornadas da Seção Leste-Oeste da EBP: Encontros & desencontros – parcerias sintomáticas
Randra Gondouin
Uma atividade onde foi possível extrair a função de um bom encontro: aquele que permite atravessamentos pelo tema, o surgimento de questões, efeitos de Escola e a circulação da palavra.
Sob a coordenação de Renato Vieira (EBP/AMP), ouvimos Renata Mendonça (EBP/AMP) e Maria Josefina Fuentes (EBP/AMP), com a intervenção precisa de Virgínia Carvalho (EBP/AMP). Mais que uma apresentação, houve ali uma conversação: espaço aberto para compartilhar, via palavra, aquilo que tocou cada um dos participantes. Falou-se de corpos, das marcas, da circulação na cidade e do “entre”.
A atividade preparatória das VI Jornadas da Seção Leste-Oeste, realizada na UFES em 12/06/25, fez com que o discurso analítico se encontrasse com a dimensão universitária sem se perder, provocando furos e circunscrevendo a singularidade radical do um a um.
Renata Mendonça nos apresentou, com generosidade, um caso clínico de sua prática, intitulado “Des-cobrir-se negro entre corpos e lugares”. Já no título, o significante entre ganha um contorno. Destacado por ela, fez questão para mim. Um entre que não é lugar de passagem, nem intervalo, mas uma localidade lógica.
O caso indicou uma questão urgente: como a violência racial, operante no nível do Outro social, se inscreve na constituição subjetiva de corpos negros? E mais: o que cabe ao analista quando esse Outro apaga e esvazia o lugar do negro?
A escuta psicanalítica não pode se manter neutra ou indiferente às vias de segregação. A clínica transmitida nos levou a considerar o inconsciente estruturado como uma linguagem como o lugar de um Outro social que, diante das insígnias estruturais, se mostra racista, excludente e colonizador. Como fazer existir o sujeito onde a inscrição simbólica foi negada?
Esse foi o giro. A surpresa. O enigma que se desdobrou em questão viva. A palavra de Renata nos conduziu a pensar que o lugar do analista pode ser o de sustentar a tensão entre o apagamento simbólico e o surgimento de um corpo que, mesmo excluído do significante “negro”, encontra uma via para se inscrever na dimensão fantasmática: aquele que se esconde.
O “tornar-se negro”, a inscrição desse significante, faz operar a condição de ter um lugar para si, fazendo laço com o social. Um lugar próprio. Destituindo a violência que foi transmitida e, por isso, apropriada. Rompendo o curto-circuito imaginário da segregação, para que o sujeito advenha neste entre. Afinal, não se trata de uma saída pelo ancoramento deste significante, mas, a partir dele, da possibilidade de um lugar próprio: “que negro você pode ser?”
Uma condução fina, que escuta o que insiste no lugar daquilo que foi apagado. Maria Josefina Fuentes, Virgínia Carvalho e Renato Vieira souberam acompanhar o desdobramento do caso com delicadeza, inserindo as sutilezas indicadas pelos estudantes de graduação e demais participantes, fazendo com que a dimensão lógica do entre tivesse ressonâncias para mim: entre nós presentes, entre a psicanálise e a universidade, entre os corpos e os lugares — algo se precipita.
