Arrastados pelo turbilhão desta época de guerra (…)
sem distância quanto às grandes transformações
que já se realizaram ou se começam a realizar
e sem vislumbre do futuro que já está a se configurar (…)
Freud, S.[1]

Imagem: Escultura Isaac Cordal
Por Sérgio de Castro – Diretor Geral da EBP
Este número do Correio Express, pretendendo-se ágil e em sintonia com o que se passa na Escola, tentará refletir sobre o alcance, as dificuldades e as exigências, sobre um fundo de desconhecimento, que a ação dessa “pequena máquina mortífera”[1] chamada COVID-19 está a provocar em nossa prática clínica. Iniciamos aqui uma série, aperiódica tanto quanto – pretendemos – assídua, que tentará recolher de colegas elaborações, elementos ou pequenos achados que nos permitam avançar nessa zona obscura à qual fomos levados.
O virtual, esse recurso que nem sempre gozou de grande simpatia entre nós, tornou-se de repente, ao que parece, uma das via pela qual podemos estar com nossos pacientes. É fato que quase todos nós, em circunstâncias excepcionais – um paciente numa longa permanência no exterior, um problema de saúde que possa impedir a locomoção etc.– realizamos, às vezes, a um ou outro esporádico atendimento on-line. Mas absolutamente não é o que está em jogo agora.
O que temos a dizer sobre isso, uma vez que a prática psicanalítica exige a presença dos corpos?
Romildo do Rêgo Barros, ressaltando a recente adesão que houve entre os analistas da EBP ao atendimento virtual, observa que antecipamos uma doutrina que só mais tarde vai se configurar. Pretendemos que a Correio Express possa contribuir para a elaboração dessa doutrina.
Marcelo Veras já arrisca algo nessa direção ao dizer que esse encontro virtual entre analista e analisante só é possível porque o analista está presente com o seu corpo vivo do outro lado da linha. Um corpo que, apoiado no digital, fará ressoar um outro corpo.
Já Nohemí Brown destaca a importância da Escola de Lacan como um espaço para formalizar os efeitos que este momento introduz na vida e nos laços sociais com seus desdobramentos na experiência analítica.
E Rômulo Ferreira da Silva introduz a questão da formação do analista quando a transmissão da psicanálise se dá, por exemplo, de forma aberta no facebook.
Espero que este número seja tomado como um ponto de partida para essa desafiadora conversa.
