APRESENTAÇÃO

A alternativa Publish or perish, conhecido mandato acadêmico, se espalha lenta e tenaz. Camille Paglia [1]  ironizou a tirania. Publicar é permitido, portanto obrigatório. A submissão ao imperativo do útil só pode conduzir ao trash, a poubelliquer como dizia Lacan. A escolha forçada nem sequer se intimida se retiramos o or: Publicar e perecer parece aproximar-se mais do verdadeiro. Publicar outorga espessura simbólica ao autor mas só em alguns redunda em imortalidade. Dá existência. Algumas existências acabam numa estante abandonada, perecem, outras erram pelos sebos passando de mão em mão e outras, se reeditam a perder de vista. Os trezentos anos que desejava Joyce.

Frank Wedekind, que estamos lendo na EBP nesse ano de despertares e tragédias, disse certa feita: “É melhor publicar que não fazê-lo, não custa nada, aparte da própria reputação, mas é melhor ter uma péssima reputação que não ter nenhuma [2]. Não vai muito longe do imperativo, existir é ser falado. Os gozos em jogo são diversos.

Podemos tentar localizar o nosso apoiados no artista brasileiro Chico Buarque de Hollanda. Os livros como as músicas desejam se mostrar, sair voando. As revistas são amigas do ritmo e da série e são interessantes porque excedem a vontade de um autor; com elas uma comunidade inteira sai voando.

Graças a Lacan podemos entender que o destino da publicação se confunda com o de uma lixeira, Poublication em 15/12/65, Poubelliquer em 10/03/71. Soma-se o letter/litter de James Joyce.

Quando se contrai o hábito da leitura do que se escreve, se espera, seja ávida ou parcimoniosamente, encontrar alguns desses estranhos seres que são os escritores que criam. Freud com sua paixão ‘aquerôntica’ queria conhecer suas fontes, não as eruditas senão os mananciais, as cavernas das musas, os acasos.

“…saber de que fontes esse estranho ser, o escritor criativo, retira seu material, e como consegue impressionar-nos com o mesmo e despertar-nos emoções das quais, talvez, nem nos julgássemos capazes”. (Freud)

Poderão acessar as publicações impressas da EBP, suas capas e sumários. Cada Seção da EBP fez um inventário das suas coleções ao longo dos anos, cada uma com seu ritmo. Algumas se lançaram ao digital, estão linkáveis. Outras resgataram algumas inencontráveis para download. Os livros editados pela EBP, sozinhos ou em parceria, começam a se dar a ver. Convidamos todos ao trabalho de subir nossos resultados às nuvens. Esperamos que essas páginas capturem leitores criativos, impressionáveis e acordados.


[1] Paglia, Camille. Junk Bonds and Corporate Raiders: Academe in the Hour of the Wolf. First published in Arion Spring 1991, republished in Paglia’s Sex, Art and American Culture: New Essays (Vintage, 1992) .”
[2]  “It is better to publish than not, It cost nothing, apart from one’s reputation, but it was better to have a poor reputation than none at all.” DIARY OF AN EROTIC LIFE, Frank Wedekind. Edited by Gerhard Hay. Translated by W. E. Yuill. Illustrated. 283 pp. Cambridge, Mass.: Basil Blackwell.