Editorial #12

 

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Bem no meio do “acontecimento futebol”, Marcelo Veras, Diretor da EBP, me convida para escrever o Editorial nº 12 do Boletim da Escola Brasileira de Psicanálise, A Diretoria na Rede-DR. São dias em que o affectio societatis está em suspenso, no suspense de Hitchcock, não da souffrance sintomática, e o estará somente durante ospróximos dias, até 13 de julho… Depois da “final”, e seja o que for, continuaremos onde estamos, no país da Psicanálise, este país que temos aprendido a construir em conjunto e pelo qual nos responsabilizamos também em conjunto, a partir do trabalho de nossas Escolas – em nosso caso, das três Escolas da AMP localizadas na América, já que recebo este convite enquanto ocupo a presidência da FAPOL, depois dos quatro anos da gestão de Elisa Alvarenga, que deixou traços notáveis, aos quais daremos continuidade.


Há poucos dias, o Bureau da FAPOL, do qual participam também Flory Kruger, Angelina Harari e Jésus Santiago, anunciou a criação de quatro Observatórios Americanos da FAPOL:


(1) A violência e as mulheres na América Latina;
(2)Legislação, subjetividades contempoâneas e a Psicanálise;
(3) A infância medicalizada;
(4) Vamos em direção a uma cultura toxicômana?


Cada um destes Observatórios será composto pelos colegas das três Escolas que trabalharão conjuntamente, aportando as perspectivas particulares e um material concreto, que usaremos para apoiar e orientar a ação lacaniana.


De fato, o trabalho do Observatório Lacaniano da EBP é um antecedente efetivo e tanto sua modalidade de trabalho, como seus resultados, serão levados em conta, nisso que estamos recentemente transitando na FAPOL. Tomar um tema como o das crenças e o da lei, produzir a elaboração que tem sido realizada sobre isso – e que desembocará em agosto, na IX Jornada da EBP-SC em Florianópolis, na realização do I Colóquio deste Observatório –, é um percurso pelo qual muito nos interessamos e do qual esperamos conhecer asconlusões.
Do mesmo modo que, para iniciar uma análise é preciso dar forma à demanda, para que nos façamos escutar numa interlocução com certos estratos do campo social, devemos dar forma a nosso próprio discurso. Trata-se de apresentar nossa posição, sem cair no fechamento de um dialeto, que normalmente pouco contribui, para levar nossas ideias ao social. Os Observatórios da FAPOL, que não são concebidos para falar entre nós, deverão nos fornecer instrumentos para estabelecer uma interlocução, fora da nossa comunidade sobre um determinado tema. Escolher um tema, no caso quatro, já é definir uma agenda para uma interlocução possível.
Entramos nesses territorios pantanosos com uma orientação de Jacques-Alain Miller, e devemos usá-la como a tênue e potente lâmpada de Diógenes, se quisermos observar de perto os relevos dessas zonas problemáticas: “Falar a língua do Outro, sim, mas para dizer o que o Outro não quer escutar”.

 

Maurício Tarrab
27 de junho de 2014