Bibliô #10

Maio 2014

Boletim eletrônico das Bibliotecas da EBP

Tânia Abreu

 

 

Editorial

 

Em seu seminário XI Lacan nos traz a novidade de que repetição não é sempre do mesmo, mas que engendra o novo. É o que podemos verificar neste nono número do Bibliô no qual, apesar de continuarmos a difundir as noites de lançamento do livro de Joseph Attié sobre Mallarmé, desta vez trazemos o novo. Seja pelo viés do texto de Isabel Lins que trabalha o que há do desejo do autor na obra de Mallarmé, salientando as conseqüências que disto o psicanalista pode deduzir, seja pelo texto que nos foi ofertado por André Lopes que, numa vertente mais literária, indaga o que de enigmático, afonal e transgressor podemos retirar da obra deste poeta obscuro. Parnasiano ou simbolista? Eis o novo eixo que este colaborador nos põe a construir, para daí também verificarmos as consequências  para sua prática que o psicanalista pode daí obter.
O XX Encontro Brasileiro com seu par de significantes, trauma e violência, mobiliza as bibliotecas na exibição e debates de filmes que contribuam com o tratamento singular a estes temas de forte apelo sociológico, tal como se configura no objetivo central do argumento deste Encontro.


O novo comparece neste número também através da nova rubrica intitulada URBANAS. A cada número o Bibliô se encarregará de indicar ao leitor uma atração das cidades, comentando-as e relacionando com livros, vídeos, cartas, depoimentos, preferencialmente tudo que a letra pode calar ou denunciar.


É o que Noemi Araujo retrata na contribuição que ofereceu ao Bibliô sobre ZUZU ANGEL, a “mãe louca” como a denominavam os militares de 64.


Em Paris, durante o IX Congresso da AMP, no dia 15.04.2014, ocorreu a reunião da Federação Internacional das Bibliotecas, FIBOL, na qual fomos representados por Maria Josefina Sota Fuentes, Bernadete Pitteri e Laureci Nunes que representou a Diretoria de Biblioteca e nos enviou uma riquíssima ata, da qual destacamos a importância da catalogação on line de todo nosso acervo, processo já em curso em bibliotecas como a da Ecole de La cause Freudienne e objetivo de nossas bibliotecas para 2014. A presença de Judith Miller foi destaque uma vez que a mesma ditou rumos importantes para nossa Federação de bibliotecas. Aguardamos a definição do tema para a Colofon 35 e saudamos o lançamento da Colofon 34!!


Boa leitura!

 



LANÇAMENTO
Já a venda em nossas seções e delegações!


ATIVIDADES NAS SEÇÕES

 

EBP São Paulo -Diretora de Biblioteca – Cynthia Freitas

 

No dia 8 de maio de 2014, quinta-feira, teremos o prazer de receber Carlos Augusto Niceas para o lançamento de seu livro “Introdução ao Narcisismo - Amor de si”. O evento contará com a participação de Carmem Silvia Cervelatti  e acontecerá no Salão de Conferências à Rua Cardoso de Almeida, n. 60, Perdizes, às 21H00. A Carta de São Paulo online 8 traz a resenha do livro, por Mariana Ferretti Moritz. Contamos com a participação de todos.

Em 21 de maio convidamos a todos para o lançamento do livro de Joseph Attié, “Mallarmé, o Livro”, na Sede da EBP-SP, às 21h00. Após a exibição do filme onde Attié apresenta sua obra, teremos os comentários de Roberto Zular, professor do Departamento de Teoria Literária e Literatura Comparada da USP e de Teresinha Natal Meirelles do Prado, com coordenação de Cynthia Farias.

 

EBP- BA Diretor de Biblioteca – Nilton Cerqueira

A Biblioteca EBP-Ba exibirá, em parceria com o Núcleo de Psicose do IPB(Instituto de Psicanálise da Bahia), no dia 21/5/14, às 18h:30, o filme Sul Coreano "Casa vazia", dirigido por Kim Ki-Duk(2004). O debate, coordenado por Nilton Cerqueira, terá a participação de Iordan Gurgel, Rogério Barros, e Carla Fernandes, tendo como eixo central a perspectiva temática da 'solidão do UM nos corpos e nas cidades'.

 

EBP-MG - Diretora de Biblioteca – Laura Rubião

O novo filme de Cao Guimarães, “O homem das multidões” faz parte da Trilogia da Solidão, que o diretor vem trabalhando nos últimos dez anos. Os anteriores são "Alma de Osso" (2004) e "Andarilho" (2007)


Pela via do cinema, tocamos a solidão do homem contemporâneo por um giro lógico no tempo: em seu “Homem das Multidões”, Cao Guimarães relê Edgar Allan Poe que anteviu, na Londres de meados do século XIX, um caminho errático e solitário para o homem, no contexto da emergência da vida urbana, marcada pelas promessas do capital industrial e da ciência positiva de seu tempo. Prestes a se ver confiscado de seus atributos sólidos e de sua identidade tradicional, o homem começa a se desorientar no desamparo da não relação.

 

Dia 20 de Maio
Conversa com Cao Guimarães sobre o filme “O homem das multidões”
Debatedora: Lúcia Grossi
Horário: 20h:00
Local: Rua Felipe dos Santos, 588 . Lourdes - BH

 

EBP-SC Diretora de Biblioteca – Laureci Nunes

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ACONTECEU:

Na noite de 03 de abril de 2014, nos reunimos na EBP-SC para mais uma atividade preparatória para o IX Congresso da AMP. Três verbetes orientaram a conversação proposta por suas tradutoras. Cada uma delas construiu um novo texto, nos quais estenderam suas pesquisas e enriqueceram alguns pontos cruciais.
Uma leitura do texto “Causa”, de Claudio Godoy, foi apresentada por Maria Teresa Wendhausen. De sua investigação foi destacado, a partir da etiologia sexual e traumática da neurose, um percurso sobre a causa desde o seminário 11 até o derradeiro ensino de Lacan, passando pelo seminário 23. A distinção entre a lei significante e a causa associa esta ao real. Nesta mesma vertente, evolui o texto com base nos conceitos de automaton e tiquê para evidenviar o real sem lei. Desta forma, marca a causa como resto decantado de uma análise como sinthome.


Em seguida, Eneida Medeiros Santos demonstrou, por seu esforço de tradução, a importância de extrair um saber sobre alguns conceitos e sua articulação a um saber erudito e filosófico. O texto “Deus e o Sujeito suposto Saber”, de Carmen González Táboas, traça a passagem da construção de Deus ontológica (ser) para uma concepção ôntica (existência). Ela realizou um percurso que vai de Moisés a Joyce passando por Eckhart que busca Deus enquanto ente, como o Um em sua absoluta simplicidade esvaziada de ser. Em oposição a este Deus há o Sujeito Suposto, Saber, enquanto pensamento florescendo sentido, face ao não sentido da relação sexual.


Antecedeu ao rico debate, conduzido por Flavia Cera, uma leitura de Silvia Espósito sobre o texto de Jesús Ambel, cujo título é “Progresso”. Suas referências sobre o tema foram ampliadas e sustentam uma crítica ao fascínio pelo progresso, evidenciando como efeito do real a inexistência de uma justa medida para o gozo. Com referência a Jorge Alemán, relança a psicanálise lacaniana ao futuro para orientar uma política que considera a constituição do sujeito como não progressista.

 

EBP-PR Diretora de Biblioteca – Célia Winter

ACONTECEU:

 

Exibição e debate do filme:" Asas do Desejo" 

 

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Dia 16/05 Exibição do filme : " Precisamos falar sobre Kevin" 
Convidado: Gilberto R. Fonseca, Psicanalista, membro da EBP/PR, membro da AMP, coordenador do núcleo de Medicina e Psicanálise.
Local: Escola Brasileira de Psicanálise - Delegação Paraná Rua Itupava, 1810 (quase esquina com Av. Nossa Sra. da Luz) Bairro Alto da XV, CEP 80045-330, Curitiba, PR Tel: (41)3524-6432 /Cel.8805-4200



EBP-ES Diretora de Biblioteca – Tânia Prates

ATIVIDADES DA COMISSÃO DE BIBLIOTECA DA DELEGAÇÃO ES DA EBP EM MAIO
Leitura da Orientação Lacaniana 2013 

 

No mês de maio continuaremos trabalhando o texto de Jacques-Alain Miller Extimidad.
Referência: MILLER, J. A. Extimidad. Buenos Aires: Paidós, 2010.
Coordenação: Tânia Mara Alves Prates (Aderente da Delegação ES da EBP) - Coordenadora da Biblioteca-Delegação ES
Data e Hora: Atividade semanal - terças-feiras, às 20 h 30 na sede da Delegação ES da EBP

Data: 06 de maio – Capítulo XV Las transmutaciones del objeto a

Data: 13 de maio – Capítulo XV Las transmutaciones del objeto a

Data: 20 de maio – Capítulo XVI La renovación de la ego psychology

Data: 27 de maio – Capítulo XVI La renovación de la ego psychology

 

Cinema e Psicanálise
 

Esta atividade tem como objetivo a discussão da produção da sétima arte sob o olhar da psicanálise. Em cada encontro será visto um filme com posterior discussão dos assuntos abordados.
Filme: “O discreto charme da burguesia”, filme de 1972, direção de Luis Buñel. (França)
Data:  17.05.14
Horário: 9 h
LOCAL: Sede da EBP/ES

EBP GO/DF – Diretora de Biblioteca- Ordália Junqueira


ACONTECEU:

Stéphane Mallarmé
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Título: Stéphane Mallarmé e a sintaxe triturada
Autor: André Lopes.
Palavras-chave: Mallarmé, poesia, sintaxe, estilo.

O ensino tradicional estipula que a não obediência às regras rígidas da gramática normativa e aos empoeirados tratados de versificação é um fracasso. A poética de Mallarmé desobedece a esses tratados. Mallarmé escreveu em um período classificado pela história literária de “parnasianismo” e, quando sua poesia adquiriu certa complexidade, alguns autores a classificaram de “simbolista”.


O crítico brasileiro José Guilherme Merquior assim define o “parnasianismo”:


O lirismo parnasiano (...) contrapôs o culto da forma ao patetismo romântico. Buscando o vocabulário aristocrático, a rima rica e a metrificação impecável, preferindo ao fluxo da inspiração o polimento paciente do verso (...) (MERQUIOR, 1977 –p.120).

 

Trata-se, pois de uma meia-verdade que Mallarmé pode ser considerado parnasiano. O verso de Mallarmé é bem talhado, tanto que “Herodias” levou cerca de trinta anos para ser continuada e não concluída. A sua rima pode até ser rica, mas não no sentido aristocrático. A rima mallarmeana não é a do “ba” com o “ba”, ela pode até ocorrer não como regra, mas como casualidade.


Entre os que ainda não leram Mallarmé, ou já ouviram falar de sua poesia há uma verdade: “ler Mallarmé é muito difícil”. Sua arte não se acumula nas estantes dos mais vendidos.Não é literatura para agradar público nenhum, e nem de longe é industrializada em larga escala.


A poética de Mallarmé não se resume às intrigas de sua vida, não que sua biografia seja desprezível, pois algumas pessoas de grande importância para o poeta, como sua mãe e sua irmã, foram abduzidas por sua arte e transformadas em símbolos poéticos.


Falamos do simbolismo e outro crítico João Alexandre Barbosa em seu Prefácio à obra de Andrade Muricy “Panorama do Movimento Simbolista no Brasil” assim diz sobre o Simbolismo:


O Simbolismo (...) buscava a transcendência do objeto e a anulação do sujeito com a criação de um espaço de aglutinações sonoras e espaciais (de que a obra de Mallarmé é a realização mais completa nos limites de sua impossibilidade) (...) (BARBOSA, in: MURICY, 1987).

 

A poesia de Mallarmé tritura a sintaxe do discurso. As palavras, na poética mallarmeana, funcionam com outro tipo de significação além da do dicionário. Anna Balakian, em seu livro “O Simbolismo”, em um capítulo intitulado ‘Mallarmé e o Cénacle Simbolista” afirma que: “Mallarmé não é um simbolista no sentido coterie da palavra, porém, mais do que ninguém, é o responsável pelo surgimento do simbolismo.” (BALAKIAN, 2007).
 Temos a impressão, ao lermos Mallarmé, de que por parte da crítica especializada há a tentativa de um forçamento em entender o inanalisável, o poeta e a sua estrutura. Dificilmente aprisiona-se a singularidade do sujeito poeta. Mallarmé não se encaixa nas classificações, pois ele criou uma poética particular que ainda nos desafia.


Segue um exemplo dessa sintaxe mallarmeana:


O Sineiro (1862-1866)

(...)
E a minha voz me vem aos pedaços e oca!
Mas um dia, cansado deste afã obscuro,
Ó Satã, eu roubo esta pedra e me penduro. (in: CAMPOS, 1991, p.39).

 

Por enquanto algo da forma clássica é preservado, como rima e ritmo, apesar do insólito revelar um sem-sentido que fende a compreensão. A estrutura da poética mallarmeana aguça a perplexidade do leitor. É outra “estrutura” não a tradicional de começo, meio e fim é como infere Augusto de Campos ao comparar a poética de Mallarmé às conquistas formais de Pound, Joyce, Commings: as subdivisões prismáticas da Ideia de Mallarmé, o método ideogrâmico de Pound, a simultaneidade joyciana e a mímica verbal de Commings convergem para um novo conceito de composição (...) (CAMPOS, 1991, p.23).

 

A poética mallarmeana revela um novo estilo de se fazer poesia. Alguns nomeiam essa poética de “transgressora”, ela não se engessa nesse significante de conotação pejorativa que afasta o leitor e o arma contra a novidade. Mallarmé viveu os avanços das revoluções industriais de uma França provinciana que se tornava moderna e sentiu as graves consequências desse período. Mallarmé transplantou os restos dessas transformações para a sua arte chocando o leitor acostumado a entender tudo o que lê. Mallarmé fere a compreensão imediata e nos ensina a pensar e enxergar que a poesia não se prende em silogismos e retóricas cartesianas.


O verso mallarmeano se assemelha à música atonal que ouvimos e dificilmente afirmamos qual é o tom. Abaixo mais um exemplo da “atonalidade” mallarmeana que, perante uma crise, nos apresenta outros significados de significantes já conhecidos. Nesses versos Mallarmé desestabelece o já estabelecido e fala do “azul” não apenas como uma cor primária:


O azul
De um infinito azul a serena ironia
Bela indolentemente abala como as flores


(...)
E tu, ó Tédio, sai dos pântanos profundos
Da desmemoria, unindo o limo aos juncos suaves,
Para tapar com dedos ágeis esses fundos
Furos de azul que vão fazendo no ar as aves.
(...) (in: CAMPOS, 1991, p. 41).

 

A pergunta: o que o poeta quis dizer? Tropeça e, na falta do que responder, olha-se o profundo azul que nos pasma poeticamente. Mallarmé cria um novo que desperta resistências advindas dos discursos dos outros que teimam em fazer a criatividade dormir. A poesia de Mallarmé movimenta as palavras e as desloca daquilo que tínhamos certeza do que sempre foi. O azul deixa de ser cor e se torna os furos que as aves fazem no ar quando o Tédio já não é mais morto. O poeta tritura a sintaxe e funda um novo signo.
Goiânia, 22 de fevereiro de 2014.


REFERÊNCIAS

BALAKIAN, Anna. O Simbolismo. São Paulo: Perspectiva, 2007.
CAMPOS, Augusto de. Mallarmé. São Paulo: Perspectiva, 1991.
MERQUIOR, José Guilherme. De Anchieta a Euclides: breve história da literatura brasileira. Rio de Janeiro: José Olympio, 1977.
MURICY, Andrade. Panorama do Movimento Simbolista Brasileiro, vol.1. São Paulo: Perspectiva, 1987.

André Lopes é Mestre em Literatura e Estudos Literários, escritor, poeta, professor de literatura, músico e participante da DG-GO/DF-EBP.

 

EBP Paraíba – Diretora de Biblioteca – Cristina Maia

SOIRÉE NA DPB – Cinema e psicanálise
Seguindo a programação do cinema, que tem tido uma ótima inserção na cidade, em maio será apresentado o filme Frida, com debate de Ana Paula Porto Luna, concluinte de Psicologia na UEPB, que apresentará tópicos de sua monografia, onde articula psicose e arte.

 

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EBP Maranhão – Diretora de Biblioteca – Anícia Ewerton

Atividade da Biblioteca da Delegação Geral Maranhão
Maio/2014

 Orientação Lacaniana/Atividade preparatória para XX Encontro do Campo Freudiano –“Trauma nos Corpos e Violência nas Cidades”
Data: 10.05.14
Horário: 15h30
Responsáveis: Anícia Ewerton- 8822-1017 e Tereza Braúna-9971-0997
Local: Delegação Geral

Tema: Trauma – o que nos diz Freud e Lacan?

FREUD ousa fazer da perda necessária da mãe, o modelo de todos  os outros traumas, o que abre caminho para que o objeto não deva ser encontrado, mas sempre "reencontrado" ,isto é, encontrado sobre o fundo de uma perda primordial.


LACAN sublinhou que é no movimento de comunicar as experiências da perda que descobrimos os limites dessa comunicação. A linguagem é um muro do qual nunca saímos e em cuja borda e estrutura são abrigados  certo número de fenômenos decorrentes da categoria do REAL.


Dessa forma o Trauma não pode ser tomado sem a estrutura e, com efeito, mesmo as contingências sofridas por um grande número de pessoas ressoam de modo único para cada um.


Esse é o ponto crucial da abordagem psicanalítica  do tratamento dos traumas de massa: Visar o singular do sujeito.


*Texto a ser trabalhado – “O Trauma generalizado e singular” Éric Laurent

 

 

CINE INSIGHT

Siponse:
Leo Macias (Marisa Paredes) é uma romancista que escreve histórias de 2ª categoria e consegue certo sucesso, mas se esconde sobre o pseudônimo de Amanda Gris. Paralelamente ela se sente infeliz, pois Paco (Imanol Arias), seu marido, é um militar que está sempre no exterior. Quando seu casamento começa a entrar em crise Leo se vê entrando em desespero, o que a leva para a bebida e a parar de escrever seus contos. Porém algumas surpresas estão reservadas para ela.

 

Comentários: Thaïs Moraes Correia
Data: 31 de maio / mensal
Responsáveis: Anícia Ewerton/ 8822-1017 e Tereza Braúna/9971-0997
Local: UNDB - Av. Colares Moreira, 443, Renascença II

 

EBP RIO

Mais uma vez vamos ter psicanálise na cidade, no programa de parceria com a Maison de France:

A VIOLÊNCIA NAS CIDADES
Mesa redonda preparatória do nossa Jornada de fim de ano
Local: Mediateca da Maison de France
Rua Presidente Antonio Carlos, 56
Centro

Coordenador: Fernando Coutinho
Palestrantes:
Ondina Machado
Vicente
Rodrigo Abecassis

 

                                                    

BIBLIÔ INDICA

URBANAS

Ocupação Zuzu

 

A 17ª Ocupação do Itaú Cultural circula pela história da Ditadura do ângulo da Moda “como manifestação artística e política” e da “mãe louca” de um desaparecido político. Vernissage no aniversário do Golpe e se encerra no Dia das Mães.


A questão da liberdade atravessa a Ocupação Zuzu, homenageando Zuleika Angel Jones (1921-1976), estilista, mãe de Stuart Angel, dado como desaparecido desde 1971. São 400 objetos do acervo do Instituto Zuzu Angel expostos, além de vídeos e performances de atrizes desfilando pra lá e pra cá,vestidas com réplicas da modista, entoando leituras de cartas escritas de seu próprio punho. Na trilha sonora cantos de pássaros e a música Angélica alinhavam uma conversa entre as obras de Chico Buarque, de Vila Lobos e da estilista, lembrada pela brasilidade singular do seu Corte & Costura.


O discurso da Ocupação divide-se entre um apogeu da estilista, rompendo com a moda européia nos anos 60, e sua experiência traumática com a repressão. Ocupam o subsolo do Itaú as conseqüências da sua ruptura de silêncio. Há mesmo inéditas imagens, filme do famoso desfile-protesto de Nova York, com bordados de motivos bélicos, denúncia da Repressão de Médici. Seus atos e atuações, tentativas de tudo dizer sobre o singular inominável, a incluíram na série de resistentes brasileiros mortos pela Repressão. A voz da “mãe louca” (expressão dos militares) ressoa em looping no espaço: “sou brasileira, mineira (...) meu filho foi seqüestrado e assassinado pelas autoridades brasileiras”.


Maria Noemi de Araujo


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MALLARMÉ / LACAN

 

Dedicamos mais um Bibliô Referências a “Mallarmé O Livro. Estudo Psicanalítico” - obra do psicanalista francês Joseph Attié publicado recentemente no Brasil pela editora Forense Universitária, graças à iniciativa de Manoel Barros da Motta. Vale ressaltar, além do valor da obra, o significativo prefácio assinado por François Regnault.


Publicamos aqui um segundo comentário, o de Maria Isabel Lins, que interroga o texto de Attié na vertente do que há do desejo do autor na obra do poeta Mallarmé e as consequências que o psicanalista pode delas deduzir.  Intitulado Um poeta versado: Mallamé entre o pai, A mulher e o saber o texto comenta dois belos poemas que segundo a autora “estão em plena consonância com seus sintomas e suas fantasias e com o saber da psicanálise”, são eles os poemas, Um Túmulo para Anatole, e Herodias. Isabel finaliza seu texto com as palavras do poema Anatole: “tu me olhas sempre espantado - vai fechar os olhos - não saiba”.
Boa leitura!


Mirta Zbrun

 

Um poeta versado: Mallarmé entre o pai, A Mulher e o saber.

Isabel Lins
EBP/AMP

 

Abro esse trabalho com palavras do próprio Attié, quando ele diz que a lucidez de Mallarmé é a de um homem que não recua diante do que ele sente e que sabe dizer. Vou me restringir a pequenos comentários, principalmente sobre dois de seus mais belos poemas e que, além do impacto que sua própria escrita lhe causou, estão em plena consonância com seus sintomas e suas fantasias e com o saber da psicanálise. Trata-se dos poemas “Um Túmulo para Anatole” “e” Herodias”.


O primeiro, como evidencia seu título, foi erigido para dar conta da morte de seu filho, Anatole, quando este tinha apenas 9 anos. Já Herodias é uma elegia que mais poderíamos classificar de ficção para fazer existir A Mulher; mas o impacto foi tamanho, que Mallarmé o deixou inacabado por muitos anos. Mal sabia ele que a ficção iria lhe produzir um efeito devastador: fixão num fascínio que irá permanecer ao longo de toda sua vida de poeta. Anatole, o poema, revela seu embate entre a dor de existir numa orfandade desnaturada, ao arrepio da ordem geracional, e um dilema crucial: como iria seu filho morrer, sem saber que iria morrer? Como dizê-lo? Se o dissesse, a morte atingiria seu filho bem amado, do exterior. “Traição de morte---do mal---sem que ele não soubesse nada---por minha vez a executá-la, por isso mesmo que filho ignora”.


Mallarmé coloca assim em cheque a função do saber, do dizer- o que se pode dizer? Uma fissura se instala entre o poeta que tão bem saberia dizer e o sujeito Mallarmé que faz da morte do filho, sua dor de existir. Difícil não pensar naquele sonho tão bem relatado e comentado por Freud e retomado por Lacan no seu Seminário sobre o Desejo. “Não vês, pai, que estou queimando?”, onde se situa também a questão do saber-não saber, e mais, segundo um voto- de quem? numa alternância entre sonho e realidade, entre sujeito e O Outro. Drama crucial que levou Mallarmé a escrever um de seus poemas mais sublimes! “Você me olha--- não posso ainda lhe dizer a verdade---um dia eu te direi---porque homem---não quero que não saiba sobre seu destino”.


Para Attié, a obsessão de Mallarmé de saber que se vai morrer é um representante de todas as suas representações.


Herodias. Chama a atenção a escolha do nome, pois de fato Herodias era o nome da mãe, Herodes, o nome do padrasto e o seu, Salomé. Nada lhe falta, apenas, quem sabe, a cabeça do Santo, João Batista, que um dia lhe olhara e cujo olhar a fascinara. Quer esse olhar de volta! Mallarmé se identifica com Herodias, sem o saber! Assim como ao Santo . O olhar de São João é o de Mallarmé também. Olhar de sideração que o paralisou por décadas, que o fez mergulhar numa crise e na depressão, só vindo a terminar o poema às vésperas de sua morte. Preço por ter tentado fazer existir A Mulher na figura de Herodias. “Desaparece/ minha obsessão/ disso não serei/ e afasta a mulher...” Aliás, segundo Attié, para J.P. Richard (O Universo imaginário de Mallarmé) “todo o mito mallarmeano de Herodias pode, sem dúvida,se referir a uma tragédia do olhar.
Palavras de Herodias: “Talvez essa atração do desastre.” “O olhar revolto por alguém no nada / Dize, hesitação entre a carne e o astro / Sobre o seio novo onde tua cegueira desponta / Sol que me amadureceu”.
Para fechar, palavras do poema Anatole: “tu me olhas sempre espantado- vai fechar os olhos- não saiba”.
Rio de Janeiro, 12/02/2014 Trabalho em torno do livro de Attié sobre Mallarmé.

 

 

COMISSÃO EDITORIAL

Redação: Tânia Abreu
Equipe: Mirta Zbrun, Fernanda Otoni, Ana Martha Maia, Laureci Nunes e Bernadette Pitteri
Coolaboradores: Fernando Coutinho (RJ), Laura Rubião (MG), Nilton Cerqueira (BA), Cynthia Freitas (SP), Carolina Queiróz (PE), Laureci Nunes (SC), Célia Winter (PR), Anícia Ewerton (MA), Aparecida Andrade de Lima (MG/MS), Ordália Alves Junqueira (GO/DF), Cristina Maia (PB), Tânia Prates (ES) e Cláudia Formiga (RN).
Logomarca: Bruno Senna e Luiz Felipe Monteiro